quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O POETA ARTHUR DE SALLES

Filho de Severiano Gonçalves de Sales e Maria Eufrosina de Aragão Sales. nasceu a 7 de Março de 1879 no bairro do Pilar, na Cidade Baixa. A água do mar chegava próxima à porta de sua casa. Morava bem próximo ao Cais Dourado, onde havia muitos estivadores, comerciantes e aconteciam sambas-de-roda e rodas de capoeira. Essas primeiras impressões marcariam-no profundamente. Elabora seus primeiros versos aos treze anos e suas poesias são publicadas pela primeira vez em 1901 por diversas revistas de Salvador.




Em 1905 forma-se pela Escola Normal da Bahia.



Arthur de Salles foi Imortal da Academia Baiana de Letras, ocupando ali a Cadeira de número 3, que ocupou até sua morte, em 1952, sendo sucedido por Eloywaldo Chagas de Oliveira.
Em 1908 é nomeado bibliotecário da Escola Agrícola da Bahia, situada na vila de São Francisco do Conde. Publica seus poemas em diversas revistas da Bahia. Por essa época, participa dos serões, dos recitais de poesia na casa de seu tio Martinho Gonçalves de Salles Brasil, ao lado de seu pai, Severiano, da poetisa Amélia Rodrigues, dos Balthazar da Silveira, dos Mangabeira etc.
A Revolução de 1930 fechou os Aprendizados e fez com que o poeta caísse em disponibilidade não-remunerada. Em 1935 é nomeado para o mesmo cargo de professor adjunto, para o Aprendizado de Quissamã, Sergipe. Enquanto estava em disponibilidade, foi ensinar no Instituto Baiano de Ensino de seus antigos condiscípulos Hugo e Giraldo Balthazar da Silveira. Lecionou português, francês e história.

É desta época a tradução de Macbeth, de Shakespeare, única tradução em versos rimados, da Língua Portuguesa, publicada pela Editora Jackson. É também nesta época que Monteiro Lobato o convida a publicar uma pequena seleção de seus versos, o que Salles não aceitou. Para ele, a coletânea tinha que ser mais abrangente, mais representativa de sua obra. Ainda deste período é o seu poema "Ocaso no Mar":



Ocaso no Mar

O céu a valva azul de uma concha semelha

De que outra valva é o mar ouriçado de escamas.

No ponto de junção, o sol - molusco em chamas -

Do bisso espalha no ar a incendida centelha.

Listões de intenso anil, raias de cor vermelha,

Grandes manchas de opala, arabescos e lhamas,

Da luz todos os tons, da cor todas as gamas

Vibram na valva azul que a valva verde espelha.

Mas todo este fulgor esmaece e se apaga.

Tímido, o olhar do sol bóia de vaga em vaga,

Porque uma sombra investe a sua concha enorme.

É a noite: como um polvo, insidiosa, se eleva.

Desenrola os seus mil tentáculos de treva:

E o sol, vendo-a crescer, fecha as valvas e dorme.

Agripino Grieco, crítico literário, em conferência no Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, disse que "se toda a poética nacional se perdesse num naufrágio, e só restasse 'Ocaso no mar', o crítico da história, lendo-o, exclamaria: 'Aqui viveu um grande povo!'" É de seu primeiro livro, "Poesias", o poema Lúcia, muito apreciado pela crítica, que o considerava o maior poeta da Bahia depois de Castro Alves:
Cláudio Veiga nos conta, em seu livro "Sete tons de uma poesia maior - Uma leitura de Artur de Sales", que, uma vez aposentado, o poeta encontrou uma modesta sinecura, proporcionada por Otávio Mangabeira, seu amigo da Academia de Letras da Bahia, e então governador da Bahia.
"Apesar de seu retraimento - diz Veiga -, não se divorciou da vida literária de sua província. Participou ativamente do movimento Nova Cruzada, aproximou-se dos jovens promotores de "Arco&Flexa", freqüentava as reuniões da ALA (Ala das Letras e das Artes). Filiado à Associação Brasileira de Escritores, era presidente da seção da Bahia, quando, em 1948, se realizou em Salvador um congresso nacional promovido pela entidade." Foi um dos fundadores da Academia de Letras da Bahia, junto com Rui Barbosa, Otávio Mangabeira, Antônio Alexandre Borges dos Reis,Afrânio Peixoto, Miguel Calmon, Aloísio de Carvalho (Lulu Parola), Teodoro Sampaio, Oscar Freire, Carneiro Ribeiro, Seabra, Pirajá da Silva, Arlindo Fragoso, os Castro Rebelo, os Moniz Sodré etc.

Em 1947, na Faculdade de Filosofia da Universidade da Bahia, ministrou a aula inaugural de um curso sobre Castro Alves.
Sua produção literária vai de 1901 até 1930. Ele explica, em 1951: "Desde 1930 por motivos de todos conhecidos e pelo infortúnio, me afastei das atividades literárias. Anteriormente, pensava como Gabriele d'Annunzio: 'Criar com alegria'. Hoje, depois de muito pensar, medito como Goethe: 'Da tua dor faze um poema'... E eu ainda não comecei o poema da minha dor."
N.A.
Tive a sorte de ser sobrinha - neta deste poeta magistral e lamento ser muito criança quando ele morreu;lembro-me das suas visitas aos meus avós maternos na casa 22 da Av.Luis Tarquinio,na Boa Viagem.Recordo os seus belos cabelos brancos de poeta  ,o jeito humilde de ser.
Eternas lembranças!

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

PRECE DE ARUANDA A SÃO COSME E SÃO DAMIÃO

Cosme e Damião, luzeiros espíritos da corte de Oxalá, amados benfeitores, queridos guias, nós vos imploramos a vossa proteção, força, saúde e resignação para que possamos cumprir com os desígnios de Pai. Dai-nos sempre os fluidos de paz, amor alegria e felicidade que vos são peculiares. Curai nossos males, fortalecendo nossos corpos materiais, proporcionando aos nossos espíritos as satisfações que lhes sejam agradáveis. Protegei-nos e a nossos familiares; protegei também, todas as criancinhas, para que tenham, a cada dia, uma vida melhor, sob o prisma material. Que vossos fluidos sacrossan-tos, recaiam sobre nossas cabeças, é o pedido que humildemente vos fazemos.

Saravá Cosme e Damião! Saravá toda Ibejada !

Que assim seja!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

BOAS FRASES!

Aprendi com a primavera a me deixar cortar. E a voltar sempre inteira."







Cecília Meirelles,poetisa brasileira

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A LIBERDADE É AZUL!

Começo da manhã,um radioso sol de primavera.Pontos cheios,os velhos ônibus apinhados,todas as suas cadeiras desconfortáveis ocupadas por passageiros sonolentos e largados.Muitos cochilavam,apesar do barulho do cunversê,dos celulares tocando enfurecidos e dos falsos mendigos e pedintes atacando os “otarianos”,que repartiam com eles seu suado dinheirinho.E mais ,a temperatura de 35º.

Junte a tudo isso,os neo-malucos de Edir Maiscedo a ler a bíblia em altos brados,ameaçando com o fogo dos infernos os descrentes,tipos sem coração que relutavam a entrar para o rebanho e pagar os sagrados dízimos.

Subindo a Contorno,eis que surge a vista deslumbrante do mar da Bahia.Amplo,vasto,azul,livre!

Os passageiros respiraram fundo a brisa marinha.

Chegando á Avenida Centenário,o coletivo parou no ponto do Shopping Barra,onde saltaram alguns,um visível ar de alívio no rosto.

Mas,subiu outro tanto e nada mudou;só o calor que aumentou para 40º.



O ponto da Airosa Galvão estava lotado;desceram três,subiram dez.

O ônibus despontou em frente ao Cristo.Uma brisa brejeira,brincalhona,alegre,reconfortou os massacrados passageiros.

A visão do mar,do verde da grama e das pessoas felizes que caminhavam rumo à praia,como que acalmou os passageiros.

De repente, o cobrador solta um grito aflito:



-Pára!Pára!

Assalto,foi o pensamento de todos.

E,o cobrador,enlouquecido,fera ferida,aos berros:

-Pára!Pára!

Assustado,o motorista freou.

O rapaz saltou pela porta traseira, arrancou a flanela vermelha do pescoço,jogou longe a camisa de brim,colada de suor,arrancou os sapatos,as calças,frenético,esquecido das contas,do trabalho difícil,do minguado salário,da mulher,das suas crianças remelentas,da sogra,do patrão,da casa miserável onde vivia,dos traficantes com quem cruzava pelas ruas tortuosas do bairro de periferia,da derrota do Bahia,do inferno,da polícia,dos assaltantes, do apontador,do fiscal,sacudindo os braços ao vento,que o engolfou,o invadiu,numa carícia prazerosa,correu em direção ao mar,atirou-se às ondas,mergulhou,satisfeito.

Não era livre,mas,naquele momento,estava.

O QUE ELES DIZEM:

Meus tesouros!


Vida e muita luz para todos.



Olha a Miriam fazendo sucesso com o livro que já é o primeiro em vendas em Salvador, na Bahia e está ganhando terreno fora do Brasil! Joga duro Miriam!!! Vamos dar aquele abraço nela, ta certo? Sei que quem for escritor e sabe valorizar a cultura e os amigos irá. Eu vou.

Vejam o convite .  
                                                          Clara Maciel,escritora.
                                                    Fundadora do Movimento Clarear

festa literária

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

ANEDOTA DE POLITICO

Coronel Secundino,prefeito de uma pequena cidade do Interior,foi convidado a uma recepção elegante,com direito a black-tie e RVSP,na casa de um rico empresário que pretendia montar uma fábrica aqui na Bahia.

A festa se desenrolava na maior elegância, mulheres lindas de longos e jóias faiscantes,homens de fraque e plastron,buffet de primeiríssima,garçons amáveis e atentos.

O Coronel compenetrado,fazendo esforço para não cometer nenhuma gafe.

Chegou o garçom,solícito,ofereceu caviar e pão.

-Q’e diabo é isso,menino?

-São ovas de peixe,doutor.

E o coronel,sem perder a empáfia:

-Antão frita dois prá mim.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A ETERNA MISS DE OLHOS AZUIS

A ETERNA MISS DE OLHOS AZUIS


Falar de Martha Rocha não é difícil;fomos contemporâneas.Ela nasceu em 19/09/36 e eu nasci em 1942.

Quando foi eleita Miss Bahia,em 1954 ,eu era uma adolescente de 12 anos,antenada com o mundo.

Maria Martha Heckel Rocha era a sétima filha do casal Álvaro,engenheiro e professor e Hansa,dona de casa.Família patriarcal,de classe média,seguia os costumes da época;moravam na Barra,passavam as férias em Mar Grande,na Ilha de Itaparica,mares onde muitas vezes me banhei.Dos irmãos de Martha,lembro do belo Gustavo e de Laura,que Martha dizia ser a mais bela do clã,e ,depois casou-se com um big shot da Ford e foi morar nos States.

A vida da bela menina de olhos azuis mudou,quando,Guilherme Simões,sobrinho do todo poderoso Simões Filho,dono do jornal “A Tarde”,convenceu-a a se candidatar a Miss Bahia.Os pais foram contra.Mas,não proibiram a filha de tomar decisões.Martha chegou ,viu e venceu.Pouco tempo depois aterrissava no Rio,com seus cabelos dourados e um corpo escultural.Miss Brasil,Miss Universo,o universo a seus pés.Tinha 18 anos.

Além da beleza,tinha carisma.Um sorriso contagiante.Nos States,desceu do avião como vencedora.Conquistou público e imprensa.Mas,perdeu o cetro;virou vice.Para a sengracice da Miriam Stevenson.Alguém aqui conhece?Sabe quem é?Dizem que Martha perdeu por duas polegadas a mais.Segundo ela,suas medidas nunca foram tomadas.

Por duas polegadas a mais

Passaram a baiana prá trás

Por duas polegadas

E logo nos quadris

Tem dó,tem dó seu juiz...

...reclamava a marchinha de carnaval.

Mas,teve Hollywood aos seus pés e ganhou 30 mil dólares para fazer um comercial da Gessy-Lever.

Martha foi vítima daquilo que torna os baianos incomparaveis:a mestiçagem.Ela tinha sangue de húngaros,suíços,portugueses,espanhóis e negro,naturalmente;todo baiano autentico tem o pé na cozinha;daí a bunda,as polegadas a mais;daí os seios fartos.Daí,a inveja que a prejudicou.Chamava-se Martha Rocha e deixava “morta e roxa” de inveja anão só as americanas desbundadas,como algumas baianas,desta terra tão provinciana nos anos 50.Martha era muito “dada”,avançada”,era como falavam as mulheres que queriam os homens que queriam a ela e os homens que queriam a ela e que ela não queria.

Reza uma lenda,que,num baile de carnaval,Martha,ainda desconhecida,quis ir ao baile “Preto e Branco “do Baiano de Tênis,clube tradicional dos ricos de nomes quilométricos desta terra,tão orgulhosos que até parecia terem parido os antepassados;Na Bahia cinquentista,se você era apresentado a alguém,antes de lhe estender a mão,vinha a indefectível pergunta:-A que família você pertence?Quem não tivesse um nome coroado,dançava.

Pois é,o”aristocrático”,como era o slogan do Baiano,vetou a Martha.Bola Preta!

Depois quase eleita Miss Universo,o Baiano preparou um baile digno das mil e uma noites para homenageá-la;A moça que mostrou ao mundo que esse povo de feios,tinha beldades,também.Tudo pronto,convite feito,personalidades presentes,Martha teve em fim,sua vingancinha;não compareceu,nem deu explicações.

Casou-se duas vezes e teve três filhos.Teve muitos altos e baixos na vida,como todos nós;mas,superou tudo,graças á sua força,inclusive um câncer de mama.Hoje,se dedica aos netos e á pintura,sua paixão e fonte de renda.

Termino com a frase de Caymmi:”Eu nunca soube o que era mais belo,se os olhos de Martha ou o mar de Itapoan.”O Mestre sabia das coisas.





quarta-feira, 15 de setembro de 2010

NOS TEMPOS DA BRILHANTINA!

A     gente não tem que caminhar muito para encontrar saudosistas.Pessoas que conheceram nossa cidade,pacata,quieta,provinciana,onde quase todos se conheciam,tempo de serenatas nas portas e cadeiras nas calçadas.Agente até podia ouvir os sinos!Êles tocavam para avisar sobre incêndios,davam horas,repicavam alegremente nos dias de festa,dobravam sobre finados,choravam pelos “irmãos”,chamavam os fiéis para as missas e novenas.Alegravam a cidade com seus toques ruidosos.Até se davam ao requinte de diferenciar os toques,algumas vezes com a boca prá baixo,outra prá cima,caso o finado fosse homem ou mulher.Os sinos de São Francisco,do Carmo,do Desterro, da Sé....As festas de largo,as quermesses,as novenas,os ternos de Reis.E a saudade vai ficando,abrindo os caminhos,logo agente lembra dos automóveis,capotas arriadas,o fonfon(o que é que há com a sua baratinha,que não quer funcionar?)os corsos,as matinés de domingo,onde os namorados trocavam beijos,”coladas”,como se chamava antigamente os beijos de língua,apesar das tias acompanhantes,sempre atentas,protegendo a donzelice das sobrinhas.;as “soirées”,elegantes,as moças de chapéu,pastinhas sobre a testa,chamada “pega-rapaz”,muitas imitavam nos trajes e penteados,a última moda de Hollywood.Moça casadoira,ás tardes,ficavam nas janelas,debruçadas nos peitoris,tinham até almofadas para descansar o cotovelo.O rapaz passava,devagar,fazia uma reverencia,com seu chapéu panamá,um bigode á Errol Flynn,ídolo da época-quem se lembra!? Do seu riso safado e bigodinho fino,sucesso entre os rapazes.Os mais afoitos piscavam o olho,a moça piscava de volta,havia a linguagem das flores,um outro dia falarei delas,os enamorados se entendiam.

E as festas?Esperar pelas festas,que alvoroço;elas aconteciam o ano todo,a maioria de igreja,maravilha quando havia quermesse ou procissão,banda de música no coreto do jardim,ou ver a banda passar,cantando coisas de amor.As mocinhas de braços dados,feito cordas de caranguejo,vestidas de rosa ou lilás,azuis suaves,verdes ternos,branco virginal.Figurinos de Lana Lo bell,vaporosos,diáfanos,decotes discretos,insinuando sem mostrar,ativando a imaginação dos rapazes;que,no alvoroço,prometiam bonbons aos irmãos mais moços da garota que queriam namorar e até uns tostões,para mante-las longe das tias,e poder ganhar um beijo roubado.Tem até aquela estorinha do namorado que prometeu um tostão ao irmão caçula da amada prá ficar vigiando a rua,debruçado na janela,avisando sobre qualquer vivente que passasse e pudesse pega-los no flagra;o garoto foi dando o alerta e papando seus tostãozinhos,até,que-garoto honesto-alertou:olhe,é despartido prá você;vem passando aí uma procissão.



segunda-feira, 13 de setembro de 2010

MULHER VELHA




O tempo de outrora era madrasta com as mulheres idosas; rapariga que chegasse aos trinta sem casar era considerada velha;ficava no barricão,ou caritó,vítima das piadas sem graça dos amigos e parentes.Virava tia”;servia para tomar conta de crianças que não gerou ou para acompanhar viúvas e doentes.As velhas de antigamente deveriam ficar em casa rezando o terço pelos defuntos e parentes.

Nos dias de hoje está tudo diferente;talvez,por causa do desaparecimento da família patriarcal,quem sabe?-constituída de avós,bisavós,filhos,netos,sobrinhos,tios,primos, afilhados e agregados.As mulheres de hoje não ficam velhas,ficam louras,não contam mais estórias para os netos,nestes tempos de desenho animado e lan-houses.

Não havia um limite,naquela época,para ser velha;podia ser a moça que casou muito cedo e,aos vinte e cinco anos estava envelhecida pelos trabalhos caseiros e inúmeros partos.Aos quarenta anos era avó;e avó lembra velhice.Velha era a viúva jovem que ,forçada pelo meio,estava proibida de viver plenamente.

As solteironas eram as mais visadas e sofredoras;não escolheram essa situação,queriam casar,ter filhos,mas,o destino lhes foi ingrato;umas,muito tímidas ou desconfiadas,tomavam cedo o véu da velhice,se enclausuravam ou viravam ratas de sacristia;se era independente,vestia-se na moda,arriscava-se a ser mal falada.Ás suas costas eram chamadas de “saíticas do brejo”ou desassuntadas.Algumas,conformadas,faziam de tudo para parecer mais velha do que era,sepultando suas ilusões no fundo do peito.Assim,se livravam das eternas perguntas:-Porque não casou?Olha que o tempo está passando...Não quer arrumar um marido?A sociedade pode ser muito cruel,quando se propõe a isto.

As malcriadas,as agressivas não deixavam barato,respondiam:-“Só estou esperando você morrer para seu marido casar comigo...”

Mas,o diabo arma e ás vezes,aparecia um casamento;talvez ela nem soubesse que estava cogitada para esposa e se surpreendia;os parentes se desesperavam,iam perder a guardiã dos velhos,doentes e crianças.Quando podiam,tratavam de afastar os pretendente.

Mulher velha vestia-se como velha.Era vedada pra elas as cores fortes,as roupas da moda,as saias curtas,os decotes.Tinham que vestir timão,casaquinhos de mangas,blusas de gola alta,trajes que não marcassem a cintura.Era necessário usar anáguas que vedassem a visão do contorno das pernas ou da “derriére”;toda anágua deveria ter um bolso comprido indo do meio da perna até a barra,para guardar dinheiro miúdo,lenços etc. O tecido tinha que ser pesado e feito para durar,para que mulher velha queria fazer roupa todo dia?As cores preto,cinza,marinho,marrom,branco;lilás,se fosse viúva;os vermelhos,deus-me-livre;só mulher desassuntada vestiria essa cor;era bom que se soltasse um boi brabo atrás dela.Onde já se viu?Velhas ricas usavam um “costume”,o pai do tailleur;saia meia perna,casaco de mangas compridas e uma blusa por dentro,branca,trabalhada com nervuras,enfeitadas com biquinhos de renda e como um belo camafeu como acabamento,em marfim e ouro para as mais abastadas.Sapatos tipo botina,de salto baixo,nas cores preto ou marrom.

Os cabelos tinham que ser esticados num coque e amarrados atrás ,sem sofisticação.Ninguém saía sem chapéu que marcava a posição social das pessoas.Havia as “capotas”,um chapéu pequeno sem abas ou o “toque”,discreto;chapéus de cerimônia tinham um véu de tule e eram enfeitados com miçangas e paetês,porém,sempre na maior discrição.Quem desejava,optava pelo fichú,mantilha comprida e preta enrolada no pescoço.Para completar o guarda-sol,o leque e uma bolsinha de gorgurão ou cetim fosco,sem enfeites.

O certo é que uma velha,numa família,tinha muita serventia;algumas orações valiam mais se feitas por mulher velha,como as contra mau olhado,espinhela caída,simpatias para ter um bom parto ou reza-forte para proteção; bênçãos e pragas rogadas por velhas,pegavam na certa.Até o inicio do século só as velhas podiam lavar e engomar os panos do altar e a roupa cerimonial dos padres.O primeiro banho de uma criança e a primeira canja de galinha tomada pela primigesta tinha que ser dado por uma velha que tivesse netos.Sair de casa pela manhã e encontrar uma velha ,dá sorte,principalmente se for negra e se for a primeira pessoa vista.

Mudaram os tempos e hoje quase não existem velhos;as pessoas chegam aos oitenta,andando nos parques,correndo nas praias,vestindo roupas alegres e gozando a vida com muito prazer.

*Trecho do livro"A Bahia de Outrora".Impossível não ler!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

OS SANTOS GÊMEOS




Nós os conhecemos como meninos levados;no Rio de Janeiro apreciam bombons e fazem brincadeiras infantis;na Bahia,esbaldam-se nas comidas que lhes são dedicadas e cobram total carinho e atenção de seus fieis,que são inúmeros.No dia de sua festa,27 de setembro,no meio da comilança e das danças,agarram no seu cavalo(filho ou filha de santo que “incorpora “a entidade)e fazem brincadeiras com os presentes,devotos ou não,falando com o tatibitate infantil e se lambuzando(e lambuzando os outros) de cocada puxa.rapadura ou caruru.São danadinhos,mas,não deixam seus devotos na mão.Pediu,recebeu.

Estudando seu passado para saber de onde vieram e como começou a tradição,descobri que foram médicos caridosos e dedicados,sempre cuidando dos pobres e desvalidos;irmãos no sangue,ligados pelo saber e sempre fazendo o bem sem olhar a quem.Quando os remédios faltavam recorriam á oração e benziam a água,que se transformava em remédio miraculoso.Eles trabalhavam em prol da Humanidade e,por amor;por isso eram chamados “os anargiros”,ou seja ,inimigos do dinheiro,epíteto que ,de jeito nenhum se aplicaria aos médicos de hoje,nem aos planos de saúde,

Eu os imagino,jovens e bonitos,morenos,pois tinham origem árabe,indo de casa em casa ,fizesse sol ou chuva,a sangrar,pensar,receitar,consolar e aconselhar.Vislumbro a alegria que essa gente desassistida,devia ter ao vê-los chegar.

Entregue a essa visão,ouço uma voz lá longe,gritar:Missa pedida prá S.Cosme e S.Damião!

E,alguém respondeu:

-Eles mesmo que nos ajudem.

Na Bahia,os médicos abnegados foram substituídos pela negra carregando uma caixinha de papelão mal ajambrada,com pequenas imagens de argila,metidas no fundo,arrodeados por um monte de manjericão,melindre,malmequeres,misturados com papel de seda,cortado.

Como boa baiana,deposito minha moedinha na caixa,mas,converso com meus botões:-Prá que santo quer dinheiro?Eles têm tudo!

Quem pediu a moeda explica que é promessa;o santo lhe valeu,tem que pagar o prometido-missa e caruru-e,como é pobre,pede para poder cumprir o prometido.

-E,eu com isso?quem pariu Mateus que balance...Seria fazer cortesia com chapéu alheio.

A desculpa é que é um preceito,é assim desde que o mundo é mundo.Vá lá!Embora tenha malandro que pede prá “caninha”,o santo não vê nem o cheiro da oferenda,muitos cantam assim:

São Cosme e S.Damião

Fizeram combinação

Saírem pedindo esmola,

Meu irmão,

Para fazerem um pirão.

O dinheiro era para fazer o pirão do santo ou do espertinho que pedia?Ficava a dúvida;mas,acho que os santos não se importam;até acham graça do expediente.

A negra da caixinha vai em frente,com seu cantochão monótono e,já,ninguém se lembra dos médicos caridosos(se é que,ao menos,sabem a estória).A lembrança que chega é de dois garotos endiabrados,caprichosos,gulosos,exigindo a paga dos benefícios que fizeram.Meninos que gostam de comida de azeite,samba,bagunça.

Ah,se a gente pudesse ver suas carinhas,quando os devotos colocam “quartinhas” de água e pratinhos de comida defronte de suas imagens!Eles,que nunca foram de freges e ,por força da sua fé,morreram degolados por ordem do Imperador Deocleciano.lá pelo ano de 287 em Egéia,na Cicilia,e,segundo Lísias,depois de várias torturas .para que desistissem de sua crença.O certo é que,na Bahia são adorados,inclusive por mim,que tenho um filho de setembro e netos gêmeos.Meu caruru,com tudo o que tem direito,não deixo de oferecer.Promessa é dívida.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

VOCÊ JÁ FOI À BAHIA?


Uma Bahia de todos os santos e muitos pecadores...


Turistas e baianos têm o privilégio de passar um dia maravilhoso.Ou dias,a depender de tempo e vontade.

Quem torcer a cara para as belas praias de Salvador:Amaralina,Barra,Mont Serrat e tantas outras,pode fazer magníficos passeios de escuna,ferry-boat,catamarã para as ilhas mais distantes,mas,que se pode ir e vir no mesmo dia.Se a família é grande ou tem muitos amigos,pode alugar um barco ou escuna e passar um dia de milionário,visitando paraísos que faria Adão ficar verde de inveja e envergonhar Jeová;onde já se viu paraíso ter cobra!?

Vamos começar por Itaparica,a maior ilha do litoral brasileiro,com 36m de comprimento e 368.68km de área.Tem 48.695 habitantes,espalhados por várias localidades,todas com praias deslumbrantes,como Mar Grande com belas praias,bons hotéis,veraneio de grãfinos,Porto Santo,Caixa Prego,Amoreiras,Gameleira, Ponta de Areia, Barra Grande,onde se localiza o Club Mediterranèe ,além de Itaparica,cidade histórica e uma fonte de água mineral,da qual se fala:”ô água fina,faz velha virar menina” .Veraneando lá desde menininha,talvez seja por isto que os meus sessenta e uns se comportem como vinte...

A mais procurada pelos turistas é a Ilha dos Frades,com uma praia de águas límpidas e azuis,onde as escunas preferem ancorar.Pode-se conhecer as ruínas históricas,como a Igreja de Guadalupe.Barracas servem petiscos da terra,cerveja e refrigerantes gelados,além da caipirinha caprichada.Esta ilha faz a delicia dos mergulhadores,graças á pureza e limpidez das suas águas.

No Centro Náutico paga-se apenas$35.00(por pessoa) pelo passeio.Frutas,música ao vivo e um guia fazem parte do pacote.

Nas escunas,vende-se cervejas,água e refrigerantes.A saída é ás 9hs e o retorno ás 17.30.

Depois de um dia como esse todos voltam revigorados,de bem com a vida e com lembranças de um dia feliz para sempre armazenado num cantinho qualquer do coração.

Vem,a Bahia te espera!