quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

ORGANIZA O NATAL

UM MIMO PARA VOCÊ,CARO LEITOR



Organiza o Natal

Alguém observou que cada vez mais o ano se compõe de 10 meses; imperfeitamente embora, o resto é Natal. É possível que, com o tempo, essa divisão se inverta: 10 meses de Natal e 2 meses de ano vulgarmente dito. E não parece absurdo imaginar que, pelo desenvolvimento da linha, e pela melhoria do homem, o ano inteiro se converta em Natal, abolindo-se a era civil, com suas obrigações enfadonhas ou malignas. Será bom.

Então nos amaremos e nos desejaremos felicidades ininterruptamente, de manhã à noite, de uma rua a outra, de continente a continente, de cortina de ferro à cortina de nylon — sem cortinas. Governo e oposição, neutros, super e subdesenvolvidos, marcianos, bichos, plantas entrarão em regime de fraternidade. Os objetos se impregnarão de espírito natalino, e veremos o desenho animado, reino da crueldade, transposto para o reino do amor: a máquina de lavar roupa abraçada ao flamboyant, núpcias da flauta e do ovo, a betoneira com o sagüi ou com o vestido de baile. E o supra-realismo, justificado espiritualmente, será uma chave para o mundo.

Completado o ciclo histórico, os bens serão repartidos por si mesmos entre nossos irmãos, isto é, com todos os viventes e elementos da terra, água, ar e alma. Não haverá mais cartas de cobrança, de descompostura nem de suicídio. O correio só transportará correspondência gentil, de preferência  postais de Chagall, em que noivos e burrinhos circulam na atmosfera, pastando flores; toda pintura, inclusive o borrão, estará a serviço do entendimento afetuoso. A crítica de arte se dissolverá jovialmente, a menos que prefira tomar a forma de um sininho cristalino, a badalar sem erudição nem pretensão, celebrando o Advento.

A poesia escrita se identificará com o perfume das moitas antes do amanhecer, despojando-se do uso do som. Para que livros? perguntará um anjo e, sorrindo, mostrará a terra impressa com as tintas do sol e das galáxias, aberta à maneira de um livro.

A música permanecerá a mesma, tal qual Palestrina e Mozart a deixaram; equívocos e divertimentos musicais serão arquivados, sem humilhação para ninguém.

Com economia para os povos desaparecerão suavemente classes armadas e semi-armadas, repartições arrecadadoras, polícia e fiscais de toda espécie. Uma palavra será descoberta no dicionário: paz.

O trabalho deixará de ser imposição para constituir o sentido natural da vida, sob a jurisdição desses incansáveis trabalhadores, que são os lírios do campo. Salário de cada um: a alegria que tiver merecido. Nem juntas de conciliação nem tribunais de justiça, pois tudo estará conciliado na ordem do amor.

Todo mundo se rirá do dinheiro e das arcas que o guardavam, e que passarão a depósito de doces, para visitas. Haverá dois jardins para cada habitante, um exterior, outro interior, comunicando-se por um atalho invisível.

A morte não será procurada nem esquivada, e o homem compreenderá a existência da noite, como já compreendera a da manhã.

Carlos Drummond de Andrade

domingo, 8 de dezembro de 2013

BAÚ DE LEMBRANÇAS



O BLOG DE DEZEMBRO/13


BAÚ DE LEMBRANÇAS
Andei remexendo velhos baús e olha só o que deu;encontrei agendas antigas,recortes de jornais,anotações esparsas,um retalho de vida em casa canto.
Sempre escrevi,desde garota e adorava diários e agendas,velhos registros contendo vidas passadas e  histórias
mal passadas como um bife suculento.
Uma destas foi um registro do nosso Natal de 1997.
Cidade iluminada,corais cantando nas praças,shoppings belissimamente decorados,pacientes papais – noéis sentados nas cadeirinhas,sinos bimbalhando,gente induzida a ir ás compras,passear,tomar um chopinho ou um sorvete,ser feliz,enfim...
Como se ,de repente,não mais que de repente,alguém baixasse um decreto,uma medida provisória (já que estamos no Brasil)  dizendo assim:
“Fica decidido que ,da madrugada do dia 20 de dezembro  até a noite do dia 25 do mesmo mês,todas as pessoas serão obrigadas a ser felizes.”
Revogam –se as disposições em contrário.
              LÁ EM CASA
Apesar de serem apenas 3 horas da tarde,tudo já está pronto e arrumado.O peru,o ponche,receita secreta de minha mãe,o molho da macarronada,o pavê,de sobremesa.
Para os que acham que servir macarronada,no Natal,não é de bom tom,digo que discordo;não somos ingleses para servir um plum -  pudding ou franceses para preferir um purê de nozes,tão sofisticado,muito menos, pratos de nomes e sabores estrambóticos,que,certamente,os filhos refugariam.
Pronto,fiquemos no macarrão,não pode faltar o queijo parmezon e um tinto de boa marca.
Minha família é meio complicada.Uma filha gosta de macarrão,mas,abomina certos molhos,que adoro;um filho não gosta de arroz.Meu marido só faz restrição a pratos que elevem o colesterol,ou seja,no Natal,quase todos.
 Aconselho:-Tome água de berinjela,todo mundo diz que é pau ,casca.
Ele diz preferir um purê de batatas. Eu,como boa nordestina,prefiro uma farofa  de manteiga,com ameixas.Mas,se eu puser as ameixas,ninguém mais come,só eu.E, ainda tem o meu neto,Daniel,que gosta de tudo e não gosta de nada,dependendo do “mau “ humor do dia.
Mas,eu amo administrar contrastes.Fico feliz ao arrumar a casa,cuidar da decoração,iluminar tudo,decorar a torta caseira coberta de chocolate,glacê de minuto,velha receita de minha mãe,depois dela nenhum Natal tem mais graça.
Sou uma pálida cópia do que ela foi.
Corta para o tempo dela:
Casa cheia de gente,Dita na cozinha,capitaneando os comes e bebes,minha mãe,num azáfama ,correndo para dar conta de tudo,desde a escolha da toalha de renda até a combinação das flores.Rosas vermelhas,no Natal.Vasos de puro cristal tirados dos esconderijos dos armários.Taças lavadas e secadas,o cristal puro brilhando ao sol.Já beirando os oitenta ,queria fazer tudo.
Naquela época ,para mim,cabia as compras;a escolha dos vinhos e champanhe,que ,no Natal,podia ser nacional.Mas, no Ano Novo tinha que ser francês legítimo.Disso ninguém abria mão.Tomar um banho de Veuve Cliquot ,nas badaladas da meia – noite,garantiria um ano sem problemas financeiros.É verdade e dou fé.
O dia se passava assim.As crianças de olho nos presentes,Dita na cozinha,minha mãe na decoração,eu ,nas compras e meu pai a reclamar dos gastos.Como resmungava o Velho!Gastar dinheiro,eis o crime hediondo do seu Código Penal.A gente não ligava,o supérfluo é que alegra a vida.Mas,depois de sua morte passamos a valorizar cada palavra sua,cada conselho.Raul trazia o whisky e as demais bebidas,entre elas,o gin inglês Beefeater ,que ele apreciava.



Mas,o Natal de 97  foi a culminação de um ano difícil.O ano em que ,nós,os brasileiros,vivemos em perigo.Mas,deixa pra lá,chegamos todos vivos!
Comprei um pinheirinho – detesto aquelas árvores artificiais,cobertas de neve fajutas e enfeites sem graça que se vê por ai – Os presentes serão colocados e expostos aos pés da árvore,aguçando o desejo e a expectativa das crianças.Após a meia – noite ,o alvoroço para ver o que Papai Noel trouxe para cada um.Inutilidades,quase sempre.Ah,as inutilidades que se ganha no Natal!Apesar de fazermos um “amigo oculto”,a mão coça e acabamos comprando lembrancinhas para todos.

               Mini - presépio


O Brasil é um país surpreendente!Ano difícil,muita choradeira,lojistas preocupados,já contabilizando prejuízos e,de repente,lojas cheias,shoppings lotados de gente bonita e perfumada,armadas de boa vontade e cartões de crédito,vamos gastar;a vida é curta e está ai o décimo terceiro pronto pra ficar na mão dos lojistas embevecidos.Este é o milagre brasileiro,uh- la- lá .É como se o inconsciente coletivo pensasse:_Já que não podemos matar as bruxas,para que matar as fadas?Viver é poder realizar sonhos e desejos;além do mais caixão não tem gaveta.
Para mim,os muito sovinas são os vegetarianos dos sonhos...


             GRAN FINALE
Ufa!Tudo arrumadinho;a Ceia será servida exatamente alguns minutos após a meia – noite,no terraço,lindo com as lantanas floridas e iluminadas.
Arrumei a mesa  de uma forma simples,mas,que ficou muito bonita.
De um cortiço perto da minha casa vem o som de uma música popular;eles não usam black – tie nem escutam Bach ,”Jesus, alegria dos homens”.Noto que iluminaram uma árvore grande,ficou bonito;graças aos coreanos , com seus enfeites e iluminação barata,a cidade é uma explosão de luz.

                 Mesa de Natal

Meu caçula,Beto acabou de ligar;está em Juazeiro,com a esposa.Aninha ligou de Madre Deus,diz que a cidade está muito bonita.
Mara e as crianças estão fora,fiquei chateada o sogro dela viajou e não pude mandar nada para as crianças;esqueceram de me dizer que haveria um portador.

             SOLIDÃO
Em baixo,na antiga casa de minha mãe, apenas o silencio habitava.A tristeza entrou sem ser convidada e a saudade ,sentada na velha cadeira de meu pai,parecia indiferente á minha solidão e ao vazio que imperava.
Subi,quase correndo as escadas da minha casa para fugir das recordações e recuperar a alegria que ia escoando pela vala comum das lembranças.Por companheiro ,tenho Billie,o cachorro,pois o Raul,estava dormindo,indiferente á festa que se aproximava.



Bem, o Natal chegou e passou,de um jeito feliz para todos nós.

Esperemos o réveillon e o novo ano que virá!


                   Foto do terraço


PASSE O RÉVÈILLON EM SALVADOR.NÃO DÁ PARA NÃO IR!
              








NESTE NATAL DÊ O "BAHIA DE OUTRORA" DE PRESENTE!