O BLOG DE JANEIRO/14
“QUEM TEM FÉ VAI A PÉ.”
TUDO começou com uma
ameaça de naufrágio e uma promessa.Sacudido por uma tempestade e á beira de um
naufrágio,o Capitão Teodósio Rodrigues de Farias invocou o Sr.do Bonfim e
prometeu construir uma Igreja,se fosse salvo.Não deu outra,pois,o santo não
falha.
Chegando são e salvo á
Bahia,o Capitão cumpriu a palavra;mandou fazer uma imagem de 1.06cm,em
cedro,réplica perfeita da original em Setúbal e pediu autorização á Santa Sé
para construir uma igreja,numa colina na Cidade Baixa,para onde levou a
imagem,que estava na Igreja da Penha,na Ribeira,bairro próximo.
Começou assim a devoção
que reina soberana desde 1745 até os nossos dias.É a maior festa popular da
Bahia;estende-se quase todo o mês de janeiro com suas novenas,ternos,missas
campais e a Lavagem das escadarias da Igreja,numa quinta-feira do mês de
Janeiro,geralmente,a terceira.
A tradicional Lavagem
deve sua criação ao preconceito reinante nesta cidade no inicio do século
XX,quando a Igreja Catolica e a elite branca não permitia o culto dos negros e até os perseguia,sem
dó,nem piedade.
Acontece que,no culto
afro,Sr.do Bonfim é Oxalá,o maior de todos os orixás e precisava ser
festejado,com a lavagem do seu templo na Colina,segundo o ritual,com água
perfumada de flores brancas e
alfazema:eram as águas de Oxalá.O clamor pela proibição foi tamanho que a
Igreja cedeu um pouco;”o povo de santo” lavaria o adro e as escadarias,enquanto
o templo permaneceria fechado.
O cortejo sai do
Comercio,geralmente no meio da manhã,da Igreja de N.Sra.da Conceição da Praia e
um mundo de gente ,moradores,turistas,adeptos ou não da religião
africana,políticos que querem “sair bem na foto”,milhares de pessoas vestidas
de branco,cavaleiros,carroças enfeitadas,o
afoxé “Filhos de Ghandi”,esparzindo perfume de alfazema no meio da
multidão,jornalistas daqui e d’além,percorre os 8 km e sobem a colina para
assistir á festa.Gente de todo lugar.”eu vim de Ilha de Maré,minha senhora.prá
fazer samba na Lavagem do Bonfim”,cantava Batatinha,sambista de escol.Cerca de
500 baianas vestidas de branco,com seus trajes engomados e rendados cheirando a
patchulí,distribuem banho de cheiro aos passantes,para tirar as ziquiziras e
afastar o mau-olhado.
Fitinhas de Sr. Do Bonfim,chamadas
“medidas”são distribuídas ás mancheias para todos que têm um sonho secreto e
esperam concretizá-lo;deve-se dar três nozinhos enquanto se faz três pedidos e
deixar no pulso,sem nunca tirar;quando a fitinha rasgar o pedido será
atendido,tão certo como dois e dois são quatro.A “medida”tem exatos 63
cm,distancia da chaga do peito de Cristo até Sua mão esquerda.Coloridas e belas
trazem felicidade.
Por todo o Largo e
subindo a Colina barracas de comida e bebida distraem e alimentam os passantes;é o acarajé dourado,o
oloroso abará,o efó,o vatapá,ouro líquido,o caruru perfumado,é o mistério ,a
cor e o cheiro desta cidade mágica cheia de ritmos e axé ,onde é impossível ser
infeliz.
Durante todo o
trajeto,canta-se com emoção ,oHino ao Senhor do Bonfim,música de Péthion de
Villar e letra do poeta Arthur de Sales,da qual tenho a honra de ser
sobrinha-neta.
Hoje estarei lá,de
branco,reverenciando o maior orixá da Bahia,fazendo meus pedidos e tomando
banho de cheiro,para
limpinha,levinha,com a alma perfumada e feliz ,seguir o meu destino.Como
todos!
“Andá com fé eu vou,qui
a fé nun custuma faia...”
“Desta Sagrada Colina
Mansão da Misericordia
Dá-nos a graça divina
Da justiça e da
concórdia”.
Que as bênçãos de Oxalá
tragam paz ao mundo!
*TEXTO DO LIVRO “A
BAHIA DE OUTRORA”4ª EDIÇÃO
PROCURE A PARTIR DE FEVEREIRO NAS PRINCIPAIS LIVRARIAS DE SALVADOR.
BREVE ,DISTRIBUIÇÃO NACIONAL.
CARTÓRIO DE PROTESTOS
Com os amigos João e Joel na Lavagem do Bonfim
Desde que começou a
lavagem das escadarias do Bonfim ,uma das mais belas tradições da Bahia,que uma
“otoridade” ou outra vem tentando modificar a festa ,negra por excelência e
criada pela necessidade desta gente morena de reverenciar seus orixás,mesmo lutando
contra o preconceito de uma elite branca,senhorial,que não queria os negros
participando das festas religiosas e eram totalmente contrários ao
sincretismo,que faz de Salvador,uma cidade única no mundo.
Oxalá, o Orixá Maior, tinha
sua igreja lavada pelos seus fiéis até que veio a proibição,sendo permitido aos negros
,apenas,lavar as escadarias,para onde se dirigiam os cortejos,as baianas com
suas porrinhas cheias de água de cheiro,as águas de Oxalá,capazes de tirar
ziquizira e mau olhado de qualquer cristão ,negro ou não.
Anos
atrás, um juiz resolveu tirar os burrinhos que tanto enfeitavam a Lavagem,carregados de flores e plantas
místicas.
Alegou
o calor,maus tratos(?) ,esquecendo-se talvez que um burrinho atravessou
desertos carregando o Menino e sua Mãe para o Egito.
Agora,
inventou-se uma mudança na ordem do cortejo,sempre aberto,como deve ser,pelas
baianas,as filhas – de santo,sacerdotisas da festa.,seguidas pelo afoxé “Filhos
de Gandhi”;querem colocar á frente senhoras católicas(!)e eu me pergunto o que
essas mulheres tê a ver m com a festa.Já não estão satisfeitos,os católicos,com
suas 365 igrejas entre elas,a Basílica do Bonfim?
Nós,os
mortais comuns,ficávamos atrás,da ala das autoridades para lá,cumprindo nossa
devoção,sem mexer na tradição nem atropelar as crenças.
Não
creio que essa ideia tenha partido do Arcebispo, mesmo sendo um não baiano e
portanto,sem nenhuma obrigação de conhecer nossos costumes.Alguma beata
desvairada ou algum padreco querendo mostrar serviço deve ter “aconselhado “o prelado.
Vestida
de branco e carregando flores ,acompanharei a Lavagem ,reverenciando o Senhor
do Bonfim da religião dos meus pais e o Pai Oxalá ,do culto negro que tanto
admiro.
Mas,junto
o meu protesto aos de Ordep
Serra,Capinan e outros intelectuais revoltados com essa mudança.
Não
pisem no meu aberém! Digo eu.E está
dito.
XANGÔ,O SENHOR DA JUSTIÇA,ORIXÁ DO ANO
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EM 2014 QUE A JUSTIÇA SOBREVIVA!