terça-feira, 14 de janeiro de 2014

TRADIÇÕES DA BAHIA: LAVAGEM DO BONFI



O BLOG DE JANEIRO/14


                              “QUEM TEM FÉ VAI A PÉ.”


TUDO começou com uma ameaça de naufrágio e uma promessa.Sacudido por uma tempestade e á beira de um naufrágio,o Capitão Teodósio Rodrigues de Farias invocou o Sr.do Bonfim e prometeu construir uma Igreja,se fosse salvo.Não deu outra,pois,o santo não falha.
Chegando são e salvo á Bahia,o Capitão cumpriu a palavra;mandou fazer uma imagem de 1.06cm,em cedro,réplica perfeita da original em Setúbal e pediu autorização á Santa Sé para construir uma igreja,numa colina na Cidade Baixa,para onde levou a imagem,que estava na Igreja da Penha,na Ribeira,bairro próximo.
Começou assim a devoção que reina soberana desde 1745 até os nossos dias.É a maior festa popular da Bahia;estende-se quase todo o mês de janeiro com suas novenas,ternos,missas campais e a Lavagem das escadarias da Igreja,numa quinta-feira do mês de Janeiro,geralmente,a terceira.
A tradicional Lavagem deve sua criação ao preconceito reinante nesta cidade no inicio do século XX,quando a Igreja Catolica e a elite branca não permitia  o culto dos negros e até os perseguia,sem dó,nem piedade.
Acontece que,no culto afro,Sr.do Bonfim é Oxalá,o maior de todos os orixás e precisava ser festejado,com a lavagem do seu templo na Colina,segundo o ritual,com água perfumada  de flores brancas e alfazema:eram as águas de Oxalá.O clamor pela proibição foi tamanho que a Igreja cedeu um pouco;”o povo de santo” lavaria o adro e as escadarias,enquanto o templo permaneceria fechado.

O cortejo sai do Comercio,geralmente no meio da manhã,da Igreja de N.Sra.da Conceição da Praia e um mundo de gente ,moradores,turistas,adeptos ou não da religião africana,políticos que querem “sair bem na foto”,milhares de pessoas vestidas de branco,cavaleiros,carroças enfeitadas,o  afoxé “Filhos de Ghandi”,esparzindo perfume de alfazema no meio da multidão,jornalistas daqui e d’além,percorre os 8 km e sobem a colina para assistir á festa.Gente de todo lugar.”eu vim de Ilha de Maré,minha senhora.prá fazer samba na Lavagem do Bonfim”,cantava Batatinha,sambista de escol.Cerca de 500 baianas vestidas de branco,com seus trajes engomados e rendados cheirando a patchulí,distribuem banho de cheiro aos passantes,para tirar as ziquiziras e afastar o mau-olhado.
Fitinhas de Sr. Do Bonfim,chamadas “medidas”são distribuídas ás mancheias para todos que têm um sonho secreto e esperam concretizá-lo;deve-se dar três nozinhos enquanto se faz três pedidos e deixar no pulso,sem nunca tirar;quando a fitinha rasgar o pedido será atendido,tão certo como dois e dois são quatro.A “medida”tem exatos 63 cm,distancia da chaga do peito de Cristo até Sua mão esquerda.Coloridas e belas trazem felicidade.
Por todo o Largo e subindo a Colina barracas de comida e bebida distraem  e alimentam os passantes;é o acarajé dourado,o oloroso abará,o efó,o vatapá,ouro líquido,o caruru perfumado,é o mistério ,a cor e o cheiro desta cidade mágica cheia de ritmos e axé ,onde é impossível ser infeliz.
Durante todo o trajeto,canta-se com emoção ,oHino ao Senhor do Bonfim,música de Péthion de Villar e letra do poeta Arthur de Sales,da qual tenho a honra de ser sobrinha-neta.

Hoje estarei lá,de branco,reverenciando o maior orixá da Bahia,fazendo meus pedidos e tomando banho de cheiro,para  limpinha,levinha,com a alma perfumada e feliz ,seguir o meu destino.Como todos!
“Andá com fé eu vou,qui a fé nun custuma faia...”
“Desta Sagrada Colina
Mansão da Misericordia
Dá-nos a graça divina
Da justiça e da concórdia”.
Que as bênçãos de Oxalá tragam paz ao mundo!
*TEXTO DO LIVRO “A BAHIA DE OUTRORA”4ª EDIÇÃO
PROCURE A PARTIR DE FEVEREIRO NAS PRINCIPAIS LIVRARIAS DE SALVADOR.
BREVE ,DISTRIBUIÇÃO NACIONAL.



                                    CARTÓRIO DE PROTESTOS



                           Com os amigos João e Joel na Lavagem do Bonfim



 Desde que começou a lavagem das escadarias do Bonfim ,uma das mais belas tradições da Bahia,que uma “otoridade” ou outra vem tentando modificar a festa ,negra por excelência e criada pela necessidade desta gente morena de reverenciar seus orixás,mesmo   lutando contra o preconceito de uma elite branca,senhorial,que não queria os negros participando das festas religiosas e eram totalmente contrários ao sincretismo,que faz de Salvador,uma cidade única no mundo.
Oxalá, o Orixá Maior, tinha sua igreja lavada pelos seus fiéis até que  veio a proibição,sendo permitido aos negros ,apenas,lavar as escadarias,para onde se dirigiam os cortejos,as baianas com suas porrinhas cheias de água de cheiro,as águas de Oxalá,capazes de tirar ziquizira e mau olhado de qualquer cristão ,negro ou não.
Anos atrás, um juiz resolveu tirar os burrinhos que tanto enfeitavam  a Lavagem,carregados de flores e plantas místicas.
Alegou o calor,maus tratos(?) ,esquecendo-se talvez que um burrinho atravessou desertos  carregando o Menino e  sua   Mãe  para o Egito.
Agora, inventou-se uma mudança na ordem do cortejo,sempre aberto,como deve ser,pelas baianas,as filhas – de santo,sacerdotisas da festa.,seguidas pelo afoxé “Filhos de Gandhi”;querem colocar á frente senhoras católicas(!)e eu me pergunto o que essas mulheres tê a ver m com a festa.Já não estão satisfeitos,os católicos,com suas 365 igrejas entre elas,a Basílica do Bonfim?
Nós,os mortais comuns,ficávamos atrás,da ala das autoridades para lá,cumprindo nossa devoção,sem mexer na tradição nem atropelar as crenças.
Não creio que essa ideia tenha partido do Arcebispo, mesmo sendo um não baiano e portanto,sem nenhuma obrigação de conhecer nossos costumes.Alguma beata desvairada ou algum padreco querendo mostrar serviço deve ter “aconselhado “o  prelado.
Vestida de branco e carregando flores ,acompanharei a Lavagem ,reverenciando o Senhor do Bonfim da religião dos meus pais e o Pai Oxalá ,do culto negro que tanto admiro.
Mas,junto o meu  protesto aos de Ordep Serra,Capinan e outros intelectuais revoltados com essa mudança.
Não pisem  no meu aberém! Digo eu.E está dito.


                    XANGÔ,O SENHOR DA JUSTIÇA,ORIXÁ DO ANO

XANGÔ, o Orixá da justiça, do trovão e da pedreira. Veste-se de vermelho e branco. Usa uma coroa, e traz o Oxé (machado duplo) e o Xerê (instrumento musical) Seu dia é Quarta-feira e sua saudação é "Kawó-Kabyesilé !". Seus filhos são pessoas fisicamente fortes, atrevidos e prepotentes. Com um senso de justiça muito próprio, não suportam desaforos. As vezes agem como se fossem os donos da verdade. Porém, quando a situação complica, sempre buscam um meio termo, para não sair perdendo.





  
EM 2014 QUE A JUSTIÇA SOBREVIVA!