sexta-feira, 24 de junho de 2011

ÔPAIÓ, A BAHIA GANHOU UM POEMA DE PRESENTE!




Bahia é sol. Praia. Rede
É bahia de todos os santos
Vestidos rodados, bordados,
cocadas  na gamela
Berimbau  no  chão
Charge. Caricaturas
Carrancas  fechando  portas
Aguçando  a imaginação
Figas  que  falam  subliminarmente
de  promessas  e   desejos
Descontinuidades  bizarras
do  mulato  que  chora   pra...rir
Boquiaberto, em êxtase
Inebriado  com o requebro sensual
da morena de cintura fina e quadril avantajado
Sorriso de coco verde
Ladeira  abaixo ...



Esta é a Bahia
que desamarra a tenda
Corta a fita azul lá no Bonfim
entre anjos e querubins
Descendentes de Zumbi, em perfeita harmonia
Cabe tudo na Bahia
Andiara, dandara, Tiara.

A tarde cai.Olha lá. Veja lá!
O porto!
Correr, pra que? Fique aqui
Em busca da nota  magnética, dissonante, inebriante
Veja estas águas que bronzeiam os passos da doce mulata
pés de água viva, areia quente, conchas pequenas
Sereias enigmáticas, sedutoras, despojadas, atrevidas
Que importa o balanço das redes?



Bahia é utopia de pescadores descrentes, tementes,valentes
que quebram  seus chapéus, ...dolentes
Sorrisos inconstantes,equivalentes
 vão mar adentro
Como menestréis com cheiro de sal e ervas
Óleo e dissabores em parcas odisséias
Banhados pela ternura do sol poente
Mormente  o vento fresco,brisa reconfortante
de quando em vez ondas ousadas e valentes
triturando,  amordaçando, esbravejando
declinando sonetos extravagantes,
melodias, rimas dissonantes
pautadas entre o mi e o fá, sem o sustenido
em dueto com o gingado do barco-morada
desafiando os mistérios do mar, ora bravio
Vez por outra enganosamente calmo a pachorrento



Nada importa, nem o vento que castiga a pele e resseca os lábios e a alma.
A imensidão do mar tem um pouco de mim
É meu, é nosso. Eu e ele, nós e ele
Universo de mentes taciturnas
linguajar apressado, embolado, marinado
                        ÔPAIÓ
 Vera Augusto,poetisa mineira

sexta-feira, 17 de junho de 2011

AS ADIVINHAÇÕES NO SÃO JOÃO!...


Quer saber se vai casar?Quando?Com quem?Homem velho? Novo?
As adivinhas feitas na noite de São João a (quase) tudo respondem; casamento e mortalha no céu se talha,dizia minha vó,senhora de muitos conhecimentos passados de geração a geração.
Mas, vamos ás adivinhações,que é o que interessa:
Na noite se São João, passa-se um ramo de manjericão na fogueira e atira-se ao telhado;se na manhã seguinte,o ramo ainda estiver verde,o noivo será jovem,se murcho,é velho.
A dificuldade que vejo é  que a maioria mora em prédios,inexistentes na época destas adivinhas.Como atirar e depois conferir o resultado???
Penso que esta adivinhação vem de longe, do tempo da Virgem Maria.O evangelho apócrifo de São João registra o episódio da escolha de um ancião para marido da Virgem.Doze velhos levaram para o Templo 12 bastões e o de São José cobriu-se de lírios,símbolo de vida casta.
Na véspera de São João faz-se um pirão com um tantinho de farinha e, dentro,se coloca um grão de milho;com os olhos bem fechados divide-se o pirão em três partes e se coloca uma na porta da rua,outra embaixo da cama e a terceira na porta do quintal.Se for encontrado o pedaço na porta da rua,casamento breve;se em baixo da cama,vai demorar,pode começar o enxoval bem devagarinho e,se for no quintal,esqueça casamento.Será no dia de S. Nunca,de tarde.
Tem também a da bananeira: use uma faca que nunca tenha sido usada e enterre numa bananeira; na noite seguinte aparecerá a inicial do noivo ou da noiva.
Bananeiras agora são difíceis de ser encontradas; assim, aproveite esta:
Perto da meia-noite, na  véspera ,dia 23,encha uma bacia com água e olhe para dentro;se não aparecer o rosto é morte certa,ainda este ano.É a representação do reflexo,da individualidade,do “alter ego”;ás vezes,a morte não é física,é a morte moral do indivíduo,sujeito ás convenções e esquecido de si mesmo,dos seus sonhos.
Se duas agulhas forem colocadas numa bacia com água, com uma  certa distancia uma da outra e essas agulhas se juntarem,prepare o buquê;vai sair casamento,logo,logo.Isto na noite de São João,claro!
Ou escreva o nome dos possíveis pretendentes em papeizinhos pequenos; coloque-os numa bacia com água; o nome que amanhecer aberto é o do noivo ou noiva.
Mas, há também a tradição das vozes,que herdamos de Portugal,que herdou dos romanos,que consultavam Hermes.Na noite junina encha a boca de água e fique atrás da porta;o primeiro nome que ouvir é do noivo ou noiva.
Tem aquela herdada dos celtas, usando uma moeda;pegue uma moeda de  10 centavos e atire na fogueira;na manhã seguinte,retire-a das cinzas e ofereça a um pobre;o nome dele será o nome do seu noivo.
Se quiser, na noite de São João, ponha um pouco de clara de ovo num  copo virgem,  com água; e diga:  São João ,de Deus amado
São João,de Deus,querido
Deparai-me a minha sorte
Neste copinho de vidro.

No dia seguinte, você verá uma igreja (bodas)um navio (viagem) ou um caixão(morte ou viuvez).
São inúmeras as adivinhas e presságios, oriundos dos gregos,romanos e celtas,que os  repassaram aos povos ibéricos.
Assim me contaram. Assim,repasso!
FELIZ SÃO JOÃO PARA TODOS!!!
Fontes: Barão de Studart,Câmara Cascudo,Amiano Marcelino e,é claro,a tradição oral.

domingo, 12 de junho de 2011

POEMA DE JORGE LUIS BORGES


O Apaixonado

Luas, marfins, instrumentos e rosas, 
Traços de Dúrer, lampiões austeros, 
Nove algarismos e o cambiante zero, 
Devo fingir que existem essas coisas. 
Fingir que no passado aconteceram 
Persépolis e Roma e que uma areia 
Subtil mediu a sorte dessa ameia 
Que os séculos de ferro desfizeram. 
Devo fingir as armas e a pira 
Da epopeia e os pesados mares 
Que corroem da terra os vãos pilares. 
Devo fingir que há outros. É mentira. 
Só tu existes. Minha desventura, 
Minha ventura, inesgotável, pura.
Jorge Luis Borges, in “História da Noite”

sexta-feira, 10 de junho de 2011

ARTIGO DE MIRIAM SALES NO JORNAL "A TARDE",SALVADOR


Jornal "A Tarde",SALVADOR,5 e 9/6/11


CASAMENTO CAIPIRA




CASAMENTO CAIPIRA
Autora: Ivone Alves SOL

NARRADOR
                      Gente a esperá
                      Em noite de São Jão,
                      Noiva no artá
                      Só farta chegar o Jão!

NOIVA:     
                      Ai meu Santo Antonio,
                      Quê do meu Jão?
                      Será que vai deixar eu
                      Dispois de tanta produção!?

NARRADOR
                      Jão é cabra de palavra,
                      Bem que pensou desisti...
                      Mas se assim o fizesse,
                      Tinha que se ver com seu Didi!

NOIVO        
                      Oxente, minha Fulo de Maracujá!
                      Ainda ta aí a me esperá, tá?
                      Magina se eu ia deixá ocê,
                      Prantada nesse artar!

NOIVA:            
                       Eu sei meu beija-flor,
                       Que a mim tu tem amô!

NOIVO:            
                       Vamos padre!
                       Case nois nesse momento...
                       Não tem nenhum impedimento,
                       Prêsse nosso casamento.

NARRADOR:        
                       O padre já cansado,
                       Não quer mais perdê tempo!
                       Chama os dois pra frente,
                       Prumode fazêo juramento.


PADRE:            
                      Então venha para cá
                      João Lutero Jatobá,
                      Trazendo consigo a sinhá
                      Maria Fulô Maracujá.

NARRADOR:      
                      Os dois vão pro artar
                      Cheios de felicidade,
                      Quando de repente:
                      Aparece uma beldade!

AMANTE:      
                      Ô Jão Lutero sei lá de que!
                      Acha que vai se casá é?!
                      Ocê imbuxa eu e vai casá,
                      Cum outra muié?

NOIVO:         
                      Mai eu nunca vi ocê,
                      Nem na missa nem na carniça.
                      Esse guri não é meu,
                      Essa muié uma bisca!

NOIVA:            
                      Ah!!! Jão Lutero!
                      Ocê vai ter que se expricá...!
                      Donde vem essa bisca,
                      Com seu filho a carregá?!

PAI DA NOIVA:  
                       Ah!!! Mai vai mermo!
                       Só que num é a eu nem a ocê.
                       É cum delegado da puliça,
                       Que esse cabra vai se vê!

NARRADOR:      
                       O coração de Jão dispara,
                       Suas pernas treme  toda.
                       Inté que chega uma moça
                       E decidida sorta a fala.

AMIGA DA AMANTE:
                       Ontem mermo eu lhe vi,
                       Sua barriga só tinha banha.
                       Vamo logo de uma vez,
                       Acabe cum essa façanha!
(Amante e noiva brigam até que a noiva arranca a barriga falsa da amante)

DELEGADO:        
                        Parem ou eu atiro! (aponta a arma)

NOIVO:              
                        Eu num te disse minha Fulô,
                        Que só tenho ói pra ocê!
                        Vamo padre, nos case logo,
                        Antes que a comida acabe,
                        E a gente fique sem comê!

NARRADOR:      
                        E assim segue o casório,
                        Noivo e noiva no artá.
                        O padre não se demora,
                        Para não contrariar.
PADRE:            
                       (faz o sinal da cruz e diz:)
                       Pode beijá a noiva!

NOIVA:            
                      Ai! Eu tou tão feliz!!!

NOIVO:            
                       Ah! Minha fulô...
                       Eu não vejo a hora de vê ocê
                       Fazendo meu café,
                       Pegando a toalha prumode  eu me enxugá,
                       Preparando a mesa pra quando eu acordá!
NOIVA:         
                         Oxente! É só pra isso que ocê me quer, é?
NOIVO:            
                          Não! Nóis vai fazer muitos guris, num é?!
                          Sorta o som!!!
Da professora e  poetisa  IVONE SOLL, este que é um dos textos mais lidos no site Recanto das Letras IMG: Busca Google

quarta-feira, 8 de junho de 2011

AUTOR BAIANO TEM LIVRO SELECIONADO PELO PNLL









Antologia Poética Valdeck Almeida de Jesus foi a única iniciativa baiana citada na primeira edição do livro “Texto e História – 2006 a 2010” que reúne atividades relacionadas ao universo do livro e leitura e contém depoimentos de escritores, editores, bibliotecários, agentes culturais, livreiros, dirigentes públicos, acadêmicos e responsáveis por projetos de leitura e do terceiro setor.

O livro é apresentado pelo escritor Afonso Romano de Sant’Anna, Juca Ferreira (ex-Ministro da Cultura), Fernando Haddad (ex-Ministro da Educação) e prefaciado por José Castilho Marques Neto (ex-Secretário Executivo do PNLL). A obra, com 344 páginas, foi editada pela Universidade Estadual Paulista – UNESP e faz parte de um kit que é distribuído a bibliotecas e entidades ligadas à literatura. No pacote vem um CD com apresentação em Power Point das principais atividades literárias do Brasil, inclusive o concurso de poesias promovido pelo jornalista baiano.
A
A obra serve de eixo para as políticas públicas voltadas para o livro e leitura e resume as principais atividades culturais e literárias que acontecem no país nas modalidades: 1 – democratização do acesso; 2 – fomento à leitura e à formação de mediadores; 3 – valorização institucional da leitura e incremento de seu valor simbólico; e 4 – desenvolvimento da economia do livro.

É neste quarto quesito que o projeto literário idealizado pelo jequieense Valdeck Almeida de Jesus se encaixa. Desde 2005 que o jornalista baiano promove um concurso literário que seleciona e publica textos em livros que são distribuídos a escolas e bibliotecas. “No começo eu pensei em publicar somente poesias de baianos, mas com a divulgação no site do Ministério da Cultura o projeto tomou dimensão internacional e hoje recebo material do mundo todo, principalmente de Portugal, Angola, Europa e Estados Unidos”, explica Valdeck.

Nos cinco anos de existência do concurso patrocinado por Valdeck já foram publicados nove livros com mais de 850 textos de autores brasileiros, argentinos, espanhóis, americanos, moçambicanos, chineses, franceses, britânicos, suecos, suíços, angolanos e portugueses. Na Bahia o destaque foi para os livros do poeta Perinho Santana, de Plataforma, subúrbio ferroviário de Salvador e duas antologias com cerca de 30 poetas-mirins do bairro Calabar. Em 2011 as inscrições estão abertas para crônicas que falem de obras e escritores baianos. Inscrições no site Galinha Pulando





PARABÉNS,VALDECK!

domingo, 5 de junho de 2011

O DONO DA CASA


Jonas não soube me contar direito porque expulsou de modo tão brusco a coitada da Dona Cadoca e seus oito rebentos da sua própria casa.
Senhora exemplar, apesar de um pouco chatinha,em nada influía ou contribuía para tornar sua vida melhor ou pior.Era uma folha em branco,só isso.
A única situação que Jonas define com clareza é a sua alegria ao se ver só,senhor absoluto do seu apartamento e das coisas que ele continha, principalmente a TV onde adorava assistir o futebol nas quartas- feiras enquanto a mulher não dispensava a novela.
Assim que percebeu que estava , enfim só, em vez do enfim,sós,tão agradável de exclamar doze anos antes, deitou-se na rede da varanda e dormiu o sono dos justos, livre do barulho das crianças  e do bulício da casa.
Acordou satisfeito,apanhou um livro e conseguiu fazer a mais deliciosa leitura da sua vida.
Bom,estava escurecendo, hora de pensar no jantar.
Foi fácil encontrar a cozinha que  a pobre Candoca tinha acabado de arrumar quando foi expulsa do paraíso sem que,ao menos,tivesse induzido a degustação do fruto proibido,que,dizem alguns,era uma maçã, mas, eu, particularmente ,não acredito por ser uma fruta muito insossa,ao contrário,por exemplo da manga espada,tão doce e sumarenta.

Bom,voltando á cozinha agora do Jonas,o mesmo, depois cavoucar a geladeira e  os armários  ,separou alguns ovos,uma lata de ervilhas, temperos e um saquinho de arroz.
-Farei uma bela comida,pensou ele.Ervilha com ovos e arroz bem temperado.
Enfileirados os ingredientes descobriu que faltava o sal.
-Diachos,resmungou,onde essa mulher guardava o raio do sal!?
Descobriu, enfim, o saleiro, porém, vazio e lavado.Provavelmente a esposa ou ex iria comprar um pacote no armazém próximo,agora fechado.
Daí lembrou-se que as mulheres adoravam sair de pires na mão pedindo ás vizinhas as coisas que lhes faltava.
Prontamente,bateu na porta do apartamento ao lado   e perguntou se podiam lhe emprestar um pouco de sal; devolveria assim que comprasse o seu.
Os vizinhos disseram que ficariam ofendidos se ele  fizesse isto e lhe deram um pacote fechado.
-Olhe,não esquente,”seu” Jonas,a cesta básica que a empresa do meu marido nos dá vem com dois pacotes de sal,uma estupidez!
Agradeceu e voltou ao seu ofício de cozinheiro.
Mas, em vez da ervilha com ovos,decidiu preparar um omelete,tão simples e prático de fazer.
Sua dúvida era como as mulheres conseguiam fazê-la tão redondinha e dourada,apetitosa para os olhos e o paladar.
Arrumou uma vasilha funda,quebrou os ovos com casca e tudo,misturou as ervilhas,os tomates,colocou sal,pimenta e canela em pó e amassou tudo com o pilãozinho do almofariz.
Agora,estava na hora crucial: como arredondar o ome lete.Despejou a massa num prato raso, apanhou a tampa da panela e tentou ,com esta,dar forma ao omelete.
Não conseguindo, desde que tudo se esparramava pelas bordas,resolveu fritar assim mesmo, já que não era uma obra de arte e,sim,uma refeição.
Neste momento pintou uma leve saudade da mulher que logo passou e ele saiu á cata do óleo de cozinha,pois tinha uma vaga lembrança que era frito.
Encontrou mais fácil o azeite doce e resolveu brindar-se com o que havia de melhor.
Gastar o azeite tão caro que era reservado apenas ao bacalhau do domingo,usando para fritar omelete lhe parecia um grito de liberdade.
Derramou parte do azeite na frigideira e quando aqueceu jogou a mistura lá dentro.
Pois a mistura uma vez no fogo,ensandeceu-se,começou a bufar e pipocar como louca ,uma casca do ovo,batendo justo no seu olho ,deixando-o provisoriamente cego.
Blasfemou,disse palavrões cabeludos que não costumavam freqüentar aquela cozinha, a mistura queimada lhe deu repugnância ,jogou tudo na lixeira e saiu para jantar.
Macho bem alimentado, dormiu o sono dos justos,de manhã tomou café no escritório, almoçou num restaurante a quilo e começou a pensar no jantar.Fritaria uns bifes.
Em casa,atrapalhou-se com as panelas; não sabia para que as mulheres precisavam de tantas e de formas diferentes.
Apanhou uma panela funda,encheu de óleo e colocou os bifes que comprou, já cortados, no supermercado.
Não se lembrou de lavá-los e temperá-los.Acendeu uma boca do fogão.
Eram sete da noite e meia hora depois entrou na cozinha para ver o resultado do seu trabalho.Sentia-se quase um “chief”,quem sabe um Adriá.
Decepção profunda! Encontrou uma coisa escura e malcheirosa que fervia soltando uma terrível espuma esverdeada.
Assustado, apagou o gás, certo de que aquilo deveria ser uma das bocas do inferno e a qualquer momento o diabo sairia dali empunhando um tridente.
Alucinado pela raiva e morto de fome correu para a casa da sogra atrás da mulher.
Foi recebido com impropérios e levou a porta na cara.
A mulher não voltou.


PALAVRA DO LEITOR:




"Miriam querida
O mais importante do causo é o humor com o qual você o tempera. Que habilidade, mulher!
Beijos,
Morgana Gazel",romancista baiana