sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A ETERNA MISS DE OLHOS AZUIS

A ETERNA MISS DE OLHOS AZUIS


Falar de Martha Rocha não é difícil;fomos contemporâneas.Ela nasceu em 19/09/36 e eu nasci em 1942.

Quando foi eleita Miss Bahia,em 1954 ,eu era uma adolescente de 12 anos,antenada com o mundo.

Maria Martha Heckel Rocha era a sétima filha do casal Álvaro,engenheiro e professor e Hansa,dona de casa.Família patriarcal,de classe média,seguia os costumes da época;moravam na Barra,passavam as férias em Mar Grande,na Ilha de Itaparica,mares onde muitas vezes me banhei.Dos irmãos de Martha,lembro do belo Gustavo e de Laura,que Martha dizia ser a mais bela do clã,e ,depois casou-se com um big shot da Ford e foi morar nos States.

A vida da bela menina de olhos azuis mudou,quando,Guilherme Simões,sobrinho do todo poderoso Simões Filho,dono do jornal “A Tarde”,convenceu-a a se candidatar a Miss Bahia.Os pais foram contra.Mas,não proibiram a filha de tomar decisões.Martha chegou ,viu e venceu.Pouco tempo depois aterrissava no Rio,com seus cabelos dourados e um corpo escultural.Miss Brasil,Miss Universo,o universo a seus pés.Tinha 18 anos.

Além da beleza,tinha carisma.Um sorriso contagiante.Nos States,desceu do avião como vencedora.Conquistou público e imprensa.Mas,perdeu o cetro;virou vice.Para a sengracice da Miriam Stevenson.Alguém aqui conhece?Sabe quem é?Dizem que Martha perdeu por duas polegadas a mais.Segundo ela,suas medidas nunca foram tomadas.

Por duas polegadas a mais

Passaram a baiana prá trás

Por duas polegadas

E logo nos quadris

Tem dó,tem dó seu juiz...

...reclamava a marchinha de carnaval.

Mas,teve Hollywood aos seus pés e ganhou 30 mil dólares para fazer um comercial da Gessy-Lever.

Martha foi vítima daquilo que torna os baianos incomparaveis:a mestiçagem.Ela tinha sangue de húngaros,suíços,portugueses,espanhóis e negro,naturalmente;todo baiano autentico tem o pé na cozinha;daí a bunda,as polegadas a mais;daí os seios fartos.Daí,a inveja que a prejudicou.Chamava-se Martha Rocha e deixava “morta e roxa” de inveja anão só as americanas desbundadas,como algumas baianas,desta terra tão provinciana nos anos 50.Martha era muito “dada”,avançada”,era como falavam as mulheres que queriam os homens que queriam a ela e os homens que queriam a ela e que ela não queria.

Reza uma lenda,que,num baile de carnaval,Martha,ainda desconhecida,quis ir ao baile “Preto e Branco “do Baiano de Tênis,clube tradicional dos ricos de nomes quilométricos desta terra,tão orgulhosos que até parecia terem parido os antepassados;Na Bahia cinquentista,se você era apresentado a alguém,antes de lhe estender a mão,vinha a indefectível pergunta:-A que família você pertence?Quem não tivesse um nome coroado,dançava.

Pois é,o”aristocrático”,como era o slogan do Baiano,vetou a Martha.Bola Preta!

Depois quase eleita Miss Universo,o Baiano preparou um baile digno das mil e uma noites para homenageá-la;A moça que mostrou ao mundo que esse povo de feios,tinha beldades,também.Tudo pronto,convite feito,personalidades presentes,Martha teve em fim,sua vingancinha;não compareceu,nem deu explicações.

Casou-se duas vezes e teve três filhos.Teve muitos altos e baixos na vida,como todos nós;mas,superou tudo,graças á sua força,inclusive um câncer de mama.Hoje,se dedica aos netos e á pintura,sua paixão e fonte de renda.

Termino com a frase de Caymmi:”Eu nunca soube o que era mais belo,se os olhos de Martha ou o mar de Itapoan.”O Mestre sabia das coisas.





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