quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

A LAVAGEM DO BOMFIM











TRADIÇÕES DA BAHIA: LAVAGEM DO BONFIM
“QUEM TEM FÉ VAI A PÉ.”
TUDO começou com uma ameaça de naufrágio e uma promessa. Sacudido por uma tempestade e á beira de um naufrágio,o Capitão Teodósio Rodrigues de Farias invocou o Sr. do Bonfim e prometeu construir uma Igreja,se fosse salvo.Não deu outra,pois,o santo não falha.
Chegando são e salvo á Bahia, o Capitão cumpriu a palavra; mandou fazer uma imagem de 1.06cm, em cedro, réplica perfeita da original em Setúbal e pediu autorização á Santa Sé para construir uma igreja, numa colina na Cidade Baixa, para onde levou a imagem, que estava na Igreja da Penha, na Ribeira, bairro próximo.
Começou assim a devoção que reina soberana desde 1745 até os nossos dias. É a maior festa popular da Bahia;estende-se quase todo o mês de janeiro com suas novenas,ternos,missas campais e a Lavagem das escadarias da Igreja,numa quinta-feira do mês de Janeiro,geralmente, a terceira.
A tradicional Lavagem deve sua criação ao preconceito reinante nesta cidade no inicio do século XX,quando a Igreja  Católica e a elite branca não permitia o culto dos negros e até os perseguia,sem dó, nem piedade.
Acontece que, no culto afro, Sr. do Bonfim é Oxalá, o maior de todos os orixás e precisava ser festejado, com a lavagem do seu templo na Colina, segundo o ritual, com água perfumada de flores brancas e alfazema: eram as águas de Oxalá. O clamor pela proibição foi tamanho que a Igreja cedeu um pouco;”o povo de santo” lavaria o adro e as escadarias,enquanto o templo permaneceria fechado.
O cortejo sai do Comercio, geralmente no meio da manhã, da Igreja de N. Sra. da Conceição da Praia e um mundo de gente, moradores, turistas, adeptos ou não da religião africana, políticos que querem “sair bem na foto”, milhares de pessoas vestidas de branco, cavaleiros, carroças enfeitadas, o afoxé “Filhos de Ghandi”, esparzindo perfume de alfazema no meio da multidão, jornalistas daqui e d’além, percorre os 8 km e sobe a colina para assistir á festa.
 Gente de todo lugar.”eu vim de Ilha de Maré,minha senhora.prá fazer samba na Lavagem do Bonfim”,cantava Batatinha,sambista de escol.Cerca de 500 baianas vestidas de branco,com seus trajes engomados e rendados cheirando a patchulí,distribuem banho de cheiro aos passantes,para tirar as ziquiziras e afastar o mau-olhado.
Fitinhas de Sr. Bonfim, chamadas “medidas” são distribuídas ás mancheias para todos que têm um sonho secreto e esperam concretizá-lo; deve-se dar três nozinhos enquanto se faz três pedidos e deixar no pulso, sem nunca tirar; quando a fitinha rasgar o pedido será atendido, tão certo como dois e dois são quatro. A “medida” tem exatos 63 cm,distancia da chaga do peito de Cristo até Sua mão esquerda.Coloridas e belas trazem felicidade.
Por todo o Largo e subindo a Colina barracas de comida e bebida  distraem e alimentam os passantes; é o acarajé dourado, o oloroso abará, o efó, o vatapá, ouro líquido, o caruru perfumado, é o mistério, a cor e o cheiro desta cidade mágica cheia de ritmos e axé, onde é impossível ser infeliz.
Durante todo o trajeto, canta-se com emoção, o Hino ao Senhor do Bonfim, música de Péthion de Villar e letra do poeta Arthur de Sales, da qual tenho a honra de ser sobrinha-neta.
Hoje estarei lá, de branco, reverenciando o maior orixá da Bahia, fazendo meus pedidos e tomando banho de cheiro, para limpinha, levinha, com a alma perfumada e feliz, seguir o meu destino. Como todos!
“Andá com fé eu vou, qui a fé nun custuma faia...”
“Desta Sagrada Colina
Mansão da Misericórdia
Dá-nos a graça divina
Da justiça e da concórdia”.
Que as bênçãos de Oxalá tragam paz ao mundo!




                     O HINO AO SENHOR DO BONFIM

Com versos do poeta baiano Arthur de Salles e música de Pethion de Villar

Hino do Senhor do Bonfim

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glória a ti neste dia de glória
glória a ti redentor que há cem anos
nossos pais conduziste à vitória
pelos mares e campos baianos

desta sagrada colina
mansão da misericórdia
dai-nos a graça divina
da justiça e da concórdia

glória a ti nessa altura sagrada
és o eterno farol, és o guia
és, senhor, sentinela avançada
és a guardo imortal da bahia.

dessa sagrada colina
mansão da misericórdia
dai-nos a graça divina
da justiça e da concórdia

aos teus pés que nos deste o direito
aos teus pés que nos deste a verdade
trata e exulta num férvido preito
a alma em festa da nossa cidade

desta sagrada colina
mansão da misericórdia
dai-nos a graça divina
da justiça e da concórdia