TRADIÇÕES
DA BAHIA: LAVAGEM DO BONFIM
“QUEM
TEM FÉ VAI A PÉ.”
TUDO
começou com uma ameaça de naufrágio e uma promessa. Sacudido por uma tempestade
e á beira de um naufrágio,o Capitão Teodósio Rodrigues de Farias invocou o Sr.
do Bonfim e prometeu construir uma Igreja,se fosse salvo.Não deu outra,pois,o
santo não falha.
Chegando
são e salvo á Bahia, o Capitão cumpriu a palavra; mandou fazer uma imagem de
1.06cm, em cedro, réplica perfeita da original em Setúbal e pediu autorização á
Santa Sé para construir uma igreja, numa colina na Cidade Baixa, para onde
levou a imagem, que estava na Igreja da Penha, na Ribeira, bairro próximo.
Começou
assim a devoção que reina soberana desde 1745 até os nossos dias. É a maior
festa popular da Bahia;estende-se quase todo o mês de janeiro com suas
novenas,ternos,missas campais e a Lavagem das escadarias da Igreja,numa
quinta-feira do mês de Janeiro,geralmente, a terceira.
A
tradicional Lavagem deve sua criação ao preconceito reinante nesta cidade no
inicio do século XX,quando a Igreja Católica e a elite branca não permitia o culto
dos negros e até os perseguia,sem dó, nem piedade.
Acontece
que, no culto afro, Sr. do Bonfim é Oxalá, o maior de todos os orixás e
precisava ser festejado, com a lavagem do seu templo na Colina, segundo o
ritual, com água perfumada de flores brancas e alfazema: eram as águas de
Oxalá. O clamor pela proibição foi tamanho que a Igreja cedeu um pouco;”o povo
de santo” lavaria o adro e as escadarias,enquanto o templo permaneceria
fechado.
O
cortejo sai do Comercio, geralmente no meio da manhã, da Igreja de N. Sra. da
Conceição da Praia e um mundo de gente, moradores, turistas, adeptos ou não da
religião africana, políticos que querem “sair bem na foto”, milhares de pessoas
vestidas de branco, cavaleiros, carroças enfeitadas, o afoxé “Filhos de
Ghandi”, esparzindo perfume de alfazema no meio da multidão, jornalistas daqui
e d’além, percorre os 8 km e sobe a colina para assistir á festa.
Gente de todo lugar.”eu vim de Ilha de
Maré,minha senhora.prá fazer samba na Lavagem do Bonfim”,cantava
Batatinha,sambista de escol.Cerca de 500 baianas vestidas de branco,com seus
trajes engomados e rendados cheirando a patchulí,distribuem banho de cheiro aos
passantes,para tirar as ziquiziras e afastar o mau-olhado.
Fitinhas
de Sr. Bonfim, chamadas “medidas” são distribuídas ás mancheias para todos que
têm um sonho secreto e esperam concretizá-lo; deve-se dar três nozinhos
enquanto se faz três pedidos e deixar no pulso, sem nunca tirar; quando a
fitinha rasgar o pedido será atendido, tão certo como dois e dois são quatro. A
“medida” tem exatos 63 cm,distancia da chaga do peito de Cristo até Sua mão
esquerda.Coloridas e belas trazem felicidade.
Por
todo o Largo e subindo a Colina barracas de comida e bebida distraem e alimentam os passantes; é o acarajé
dourado, o oloroso abará, o efó, o vatapá, ouro líquido, o caruru perfumado, é
o mistério, a cor e o cheiro desta cidade mágica cheia de ritmos e axé, onde é
impossível ser infeliz.
Durante
todo o trajeto, canta-se com emoção, o Hino ao Senhor do Bonfim, música de
Péthion de Villar e letra do poeta Arthur de Sales, da qual tenho a honra de
ser sobrinha-neta.
Hoje
estarei lá, de branco, reverenciando o maior orixá da Bahia, fazendo meus
pedidos e tomando banho de cheiro, para limpinha, levinha, com a alma perfumada
e feliz, seguir o meu destino. Como todos!
“Andá
com fé eu vou, qui a fé nun custuma faia...”
“Desta
Sagrada Colina
Mansão
da Misericórdia
Dá-nos
a graça divina
Da
justiça e da concórdia”.
Que
as bênçãos de Oxalá tragam paz ao mundo!
O HINO AO SENHOR DO BONFIM
Com versos do poeta baiano Arthur de Salles e música de Pethion de Villar
Hino do Senhor do Bonfim
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glória a ti neste dia de glória
glória a ti redentor que há cem anos
nossos pais conduziste à vitória
pelos mares e campos baianos
desta sagrada colina
mansão da misericórdia
dai-nos a graça divina
da justiça e da concórdia
glória a ti nessa altura sagrada
és o eterno farol, és o guia
és, senhor, sentinela avançada
és a guardo imortal da bahia.
dessa sagrada colina
mansão da misericórdia
dai-nos a graça divina
da justiça e da concórdia
aos teus pés que nos deste o direito
aos teus pés que nos deste a verdade
trata e exulta num férvido preito
a alma em festa da nossa cidade
desta sagrada colina
mansão da misericórdia
dai-nos a graça divina
da justiça e da concórdia
glória a ti redentor que há cem anos
nossos pais conduziste à vitória
pelos mares e campos baianos
desta sagrada colina
mansão da misericórdia
dai-nos a graça divina
da justiça e da concórdia
glória a ti nessa altura sagrada
és o eterno farol, és o guia
és, senhor, sentinela avançada
és a guardo imortal da bahia.
dessa sagrada colina
mansão da misericórdia
dai-nos a graça divina
da justiça e da concórdia
aos teus pés que nos deste o direito
aos teus pés que nos deste a verdade
trata e exulta num férvido preito
a alma em festa da nossa cidade
desta sagrada colina
mansão da misericórdia
dai-nos a graça divina
da justiça e da concórdia