O BLOG DE ABRIL/15
PARA VOCÊ VER A BAHIA COM OUTROS OLHOS...
TÁ COM PRESSA,IOIÓ?
Se você,amigo,vem
conhecer Salvador e seu tempo é curto ,aqui está um bom roteiro para seguir .
Se hospedado na
Cidade Alta primeiro vá até a Praça Municipal.E cumpra um ritual.Mão postada
orgulhosamente no peito,de costas para o mar diga num tom solene:Aqui nasceu o Brasil!
Olhe para a
direita;lá está o Palácio Rio Branco,um belo edifício
do sec.XVII,reformado após a República ,quando ganhou a cúpula de águias,após o
bombardeio da cidade em 1912.Bombardeio!? Foram terroristas? Não,só um
governador cretino chamado J. J.Seabra.Coisas da política.
Esqueça essas
besteiras e pense em Tomé de Souza que aqui mourejou junto com o Luis Dias para
criar a mais importante cidade brasileira.Este foi o palácio dos vice – reis do
Brasil até 1793,quando a capital foi transferida para o Rio de Janeiro.
Ainda de costas para
o mar? Á sua frente está um belo edifício seiscentista,a
Câmara Municipal que ,também,sofreu umas reformas.Mas,ainda mantém a
majestade dos velhos tempos coloniais ,pois,as fachadas laterais e de fundo, o
pátio interno,e o salão da Câmara de Vereadores foi mexido.
Junto a você,se ainda
está na mesma posição fica o Elevador Lacerda,antigamente chamado o “dente de ouro”
da Bahia.Mas,sua importância continua pois ainda é a mais importante ligação
entre a Cidade Baixa e a Cidade Alta.
Em frente ao Elevador
ficava o antigo prédio da Biblioteca Pública
derrubado para dar lugar a um mostrengo
modernoso ,a Prefeitura de Salvador.Feio
de dar dó e uma excrescência no meio de tantos edifícios coloniais.
Se ,como eu,gosta de
coisas antigas,dobre á esquerda e encontrará o prédio da Santa Casa de Misericórdia,cuja visita vale a
pena.Repare que onde fica a Cruz Caída ,uma bela
escultura de Mário Cravo tem quatro sítios arqueológicos com resgate de ossos e objetos das fundações
da Velha Sé , destruída em 1933 para dar
lugar aos trilhos de bondes da Companhia Circular um crime perpetrado contra Salvador ,que teve a benção do Cardeal da Silva e o repúdio dos
principais intelectuais baianos da época,entre eles Artur de Sales e de um
estudante de medicina chamado Antonio Carlos Magalhães ,um revolucionário desde
aquela época.
A bela Praça da Sé
obra de um querido amigo,o arquiteto Assis Reis,está degradada
,perdendo,inclusive a sua bela fonte luminosa
que era a “menina dos olhos “ do nosso grande arquiteto.
Continue a visita e
chegará ao Terreiro de Jesus onde fica a Catedral ,a antiga Faculdade
de Medicina (não deixe de entrar e apreciar os jardins e as esculturas
em mármore da varanda),a Cantina da Lua,boêmia e
irresistível ,onde o velho Clarindo serve a boa comida baiana com uma boa
cachacinha , muita simpatia e bom papo ,Clarindo Silva,um dos ícones da Bahia
de outrora.
Em frente a Catedral está a Igreja da
Ordem Terceira de São Domingos,á
esquerda a Igreja de São Pedro dos Clérigos e a seguir o Cruzeiro
de São Francisco,com a bela e famosa igreja
toda de ouro,o convento e a Ordem Terceira.
Bem ,depois destas
andadas ,amigo,você já deve estar com fome.Eu,também.Desça uma das ruas que vai
dar no Pelourinho e almoce no Restaurante do Senai,de longe,a melhor,mais farta e completa comida
baiana.
Voltaremos mês que
vem.
Axé!
Miriam de Sales e Clarindo Silva por ocasião do lançamento do livro "A Bahia de Outrora".
O BOM BAIANO
Um texto inédito da nova edição da "BAHIA DE OUTRORA",de Miriam de Sales
O baiano daqueles
tempos ,acostumado a grandes espaços nas casas senhoriais,queixa-se
muito dos minúsculos apartamentos de hoje,onde o corpo da casa é mais apertado em benefício das áreas de lazer
coletivas que com suas imensas piscinas ,churrasqueiras e salões de festas,pretendem substituir as
salas de visitas das casas onde se recebia
de maneira fidalga os amigos mais chegados e as visitas de cerimônia.
_”Tudo isso é muito bom,muito farto,mas,a saudade não me
deixa”,queixa-se a velha senhora,agora obrigada a viver com os filhos numa
destas mansões de nomes estrambóticos,uma espécie de compensação psicológica
para combater a falta das casas senhoriais,mansões ou não.
Quem vivia em casa espaçosas não se conforma com a ausência
de privacidade,sente falta da sala de visitas,enorme,adornada com bibelôs de
biscuit,da sala de jantar ,onde as famílias se reuniam para as refeições sempre
presididas pelo dono da casa,responsável por dar graças a Deus pelo pão nosso de
cada dia,farto e fresco.
Sempre havia um longo corredor,adornado com consoles e
tapetes que levava aos quartos ,á copa e cozinha,imensa , de onde saíam as
gostosuras domésticas e a parte menos nobre,o banheiro comum a toda família ,já
que poucos tinham suítes,um estrangeirismo mal acatado por aqui.
As cozinhas americanas dos “apertamentos “de hoje,seus
quartos onde mal cabe uma cama ou beliche confrangem nossos corações
acostumados ao fogão de lenha e ao guarda – comida,um grande armário onde se
acomodavam os alimentos e minha vó alinhava,como soldados,as latas de leite
Moça,ícone da minha infância ,tão desejado nas merendas da tarde.
Para nós,o povo de antigamente,o que mais incomoda é a
falta de privacidade ;mal toca a campainha
já está a visita na sala de estar/jantar/cozinha,tomando parte da vida
da casa,devassando a intimidade da família,fuçando tudo e tudo percebendo.
Os donos da casa,por sua vez,recebem as pessoas de qualquer
jeito,com trajes caseiros,ás vezes a dona da casa de camisola ou mesmo enrolada
na toalha,cabelos pingando no tapete.Sentam-se de qualquer jeito,no chão,numa
banqueta ou meio enroladas na poltrona,porque os tempos, mudaram é assim mesmo
e fim de papo.
Foi-se a época do feio,do ridículo,das visitas
cerimoniosas,dos trajes de casa,simples,mas,decentes,das roupas “de sair” e dos
trajes de festas.
Havia um limite a ser estabelecido ,uma espécie de lei não
escrita,mas,obedecida,onde a privacidade era sagrada e,mesmo as pessoas mais
íntimas,não se atreviam a sentar sem que a dona da casa dissesse- sente-se,por
favor, abrir armários ou gavetas, entrar
nos quartos sem serem convidadas,procurando o que não guardou.
Os amigos e parentes mais chegados eram tratados com muita
afabilidade e carinho.
Os outros, amigos mais distantes ,avisavam o dia que fariam
a visita,um dever social e se informavam da disponibilidade e desejo da família
em recebê-los.
Quando chegavam ,eram recebidas com requintes de
elegância,geralmente por uma criada que as introduzia na sala de visitas e ia
avisar os donos da casa. Voltava,pressurosa,para dizer que os donos estavam
vindo e servindo alguma coisa,como um licor ou sequilhos,ou mesmo um copo
d’água.
Gente educada não deixava as visitas plantadas no meio da
sala,parecendo um dois de paus,sem ter quem lhes “fizesse sala”.Coisa que
parecia fácil ,mas,não era;exigia treino e bom senso para não cair numa saia
justa,falando o que não devia. Era uma arte que devia ser cultivada e exigia
desembaraço,conhecimento e muita
atenção. Perguntava-se sobre a família,a saúde,falava-se do tempo,do teatro,das
missas e dos eventos sociais. Fofocas,maledicências e assuntos íntimos eram
excluídos da conversação.Se a visita não
era pedante,a conversação ficava mais fácil,porém,triste era lidar com os de
nariz empinado.A candidata a Cristo ficava contando os segundos para que os
anfitriões entrassem na sala.
Ufa!Chegaram os donos da casa.A conversa se animava,o
cálice de vinho do Porto era servido acompanhado dos doces e queijos.
Visitas breves eram bem vindas,ninguém precisava “morar “
na casa dos amigos.Havia os que vinham apenas fazer uma visita de
cortesia,pagar uma visita recebida,
visitar um recém – nascido,trazendo a devida prenda ,dar os parabéns ou pêsames
ou apenas trazer um convite de casamento ou formatura.
Era mesmo muito formalismo,concordo com você;mas,também,era
tudo muito mais elegante,não era?
A "BAHIA DE OUTRORA",um dos melhores livros sobre a Salvador daqueles tempos.
Versão impressa e virtual (Amazon)
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$35.00 + despesas de correio
O saudoso Cedraz no lançamento da 3ª edição do BAHIA DE OUTRORA"
QUE ,TAMBÉM,FOI OFERECIDO A JOÃO uBALDO rIBEIRO,NO SEU ANIVERSÁRIO.
para uma leitora de Cabo Verde durante a 1ª FLICA
LIVROS DE MIRIAM SALES EM TURIM,ITÁLIA
CULINÁRIA BAIANA
GALINHA DE MOLHO PARDO
A ntes de cortar o pesçoco da ave ,coloque um pouco de vinagre na vasilha onde vai recolher o sangue.
Depois de depenada em água fervente é passada em labaredas para tirar toda a penugem e,em seguida lavada com limão e água e cortada em pedaços.Tempere com sal,vinagre,alho,manteiga,pimenta e cominho,hortelã,cebolatomate,toucinho e chouriço e leva-se ao fogo para cozer.
Isto feito,deite o vinagre no sangue recolhido,que vai constituir o molho pardo;á proporção que este é despejado,revolva a panela com uma colher de madeira para não talhar o sangue.
*Manoel Querino:"A Arte Culinária da Bahia"
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