O BLOG DE JUNHO/13
MANUAL PARA ENTENDER OS BAIANOS
MANUAL PARA ENTENDER OS BAIANOS
“Baiano é estrangeiro”, brincava um colega paulista. De certa
maneira, ele tinha razão. Nós, baianos, somos diferentes de toda gente. Parece
que paramos no tempo, pois nos comportamos como se estivéssemos em 1940,
conservamos a mesma ingenuidade do inicio do século, somos confiantes,
amistosos, acolhedores. De vez em quando entramos numa fria, não estamos
preparados para esse mundo competitivo do toma lá dá cá que é corrente por aí.
Desde quando nosso visitante pisa no aeroporto, desdobramos para ele o tapete
vermelho da hospitalidade plena, damos muito mais do que as prosaicas medidas do
Bonfim: damos nosso riso alvo, abrimos o coração para o turista, até
oferecemos carona para a cidade, que eles, delicada, mas prudentemente,
recusam. Imagina se vão confiar!
Vêm de um mundo cão, onde se mata um leão por
dia, mundo do mata-mata, e entram num mundo novo, gente de
coração aberto, gente feliz, com valores diferentes dos correntes. Se a gente
gosta de dinheiro? Claro, mas, ele é um meio, não um fim, aqui as pessoas não
são olhadas como cifrões. A casa do baiano está sempre aberta, o convite para o
almoço sempre de pé, principalmente entre os mais humildes. Mal conhecemos
alguém, ele passa a ser “da família”, com direito a intimidades, nem sempre
entendidas ou bem aceitas pelos chegantes, geralmente formais. Uma hora de
conversa e já somos amigos de infância; fazemos confidência, nos interessamos
pela pessoa, queremos saber mais sobre sua vida; mas as pessoas se fecham em
copas, fazer o quê?
Baiano adora diminutivo; mãe é mainha, pai é painho.
Segundo outro amigo, paulista e judeu, somos niilistas; inventamos o “nada pra
ninguém” que o intrigava. Era demais! O baiano é irreverente; perde o amigo,
mas não perde a piada. O baiano ri de tudo, principalmente de si mesmo.
Nos meus sites, recebo muitos comentários; pessoas generosas, que inflam meu
ego, escrevendo coisas bonitas para mim; procuro responder a todos, porém os
mais constantes, para mim, são como amigos de longa data. Então respondo
do jeito baiano, sem formalidades, cheia de humor. Aí reparo que a pessoa me
trata formalmente e digo: Vige Maria! Devo responder do mesmo jeito? Cadê
meu desconfiômetro!? Mas é como se essas pessoas estivessem aqui
comigo, comendo um acarajé apimentado, bebendo água de coco, sorrindo para
a vida. Bote um caneco d’água na panela, Maria, tá chegando gente!
Sei que tem baianos “carne de pescoço”, mas estes são os
contaminados, gente que não dá pro fubá. Para o bom baiano, tudo é carnaval. A
vida é para ser vivida, não adianta se aporrinhar. Um belo dia, a morte dá
uma tapa no pé do ouvido, e o que a gente gozou da vida!? Não vale querer
ser a pessoa mais rica do cemitério. Ou fazer como aquele cara mão de vaca, que
passou a vida toda somando, nunca dividiu, multiplicou bastante o que tinha, e
os parentes, agradecidos, dividiram.
*Este texto e outros muito interessantes sobre a Bahia está no livro "A BAHIA DE OUTRORA",( já na 3ª edição e breve como e-book)da escritora baiana Miriam Sales
*Este texto e outros muito interessantes sobre a Bahia está no livro "A BAHIA DE OUTRORA",( já na 3ª edição e breve como e-book)da escritora baiana Miriam Sales
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