192 anos da Independência: Ode ao Dois de Julho
Por Castro Alves
Era no dois de julho. A pugna imensa
Travara-se nos cerros da Bahia...
O anjo da morte pálido cosia
Uma vasta mortalha em Pirajá.
"Neste lençol tão largo, tão extenso,
"Como um pedaço roto do infinito...
O mundo perguntava erguendo um grito:
"Qual dos gigantes morto rolará?!..."
Debruçados do céu... a noite e os astros
Seguiam da peleja o incerto fado...
Era a tocha — o fuzil avermelhado!
Era o Circo de Roma - o vasto chão!
Por palmas - o troar da artilharia!
Por feras - os canhões negros rugiam!
Por atletas - dous povos se batiam!
Enorme anfiteatro — era a amplidão!
Não! Não eram dois povos, que abalavam
Naquele instante o solo ensanguentado...
Era o porvir - em frente do passado,
A Liberdade - em frente à Escravidão,
Era a luta das águias — e do abutre,
A revolta do pulso - contra os ferros,
O pugilato da razão — com os erros,
O duelo da treva - e do clarão!...
No entanto a luta recrescia indômita...
As bandeiras — como águias eriçadas —
Se abismavam com as asas desdobradas
Na selva escura da fumaça atroz...
Tonto de espanto, cego de metralha,
O arcanjo do triunfo vacilava...
E a glória desgrenhada acalentava
O cadáver sangrento dos heróis!...
Mas quando a branca estrela matutina
Surgiu do espaço... e as brisas forasteiras
No verde leque das gentis palmeiras
Lá do campo deserto da batalha
Uma voz se elevou clara e divina:
Eras tu— Liberdade peregrina!
Esposa do porvir-noiva do sol!...
Eras tu que, com os dedos ensopados
No sangue dos avós mortos na guerra,
Livre sagravas a Colúmbia terra,
Sagravas livre a nova geração!
Tu que erguias, subida na pirâmide,
Formada pelos mortos de Cabrito,
Um pedaço de gládio — no infinito...
Um trapo de bandeira — n'amplidão!...
O
caboclo e a cabocla,representando o povo brasileiro
O DOIS DE JULHO
Era no dois de julho
A pugna imensa
travava-se
nos cerros da Bahia...
Assim começa o belo poema de Castro Alves “ODE AO DOIS DE JULHO”,que celebra as lutas pela independência da Bahia,em 1822.Os portugueses se recusavam a largar o osso e continuavam aqui,mandando e desmandando,mesmo após o Sete de Setembro.
O
confronto estava nas ruas,principalmente,do Nordeste,ocupado pelo governador
militar português,Inácio José Madeira de Mello,o”Madeira Podre”,como os baianos
o chamavam.Salvador estava cercada por tropas leais ao Reino e nosso
exercito,pobre,desarmado e faminto,teve que se valer de mercenários que lutavam
por dinheiro e da população humilde,porém,destreinada,que lutava por amor e
convicção.
Depois
que as tropas de Madeira invadiram o Convento da Lapa,matando o Capelão e a
Madre Abadessa Joana Angélica,que saiu em defesa do Convento,os ânimos
acirraram-se mais ainda e o cerco aos portugueses se intensificou.A luta
espalhou-se pelo Recôncavo,rica região açucareira e fumageira,banhada pelo Rio
Paraguaçú,encabeçada por Cachoeira,”A Heróica”,elevada a capital oficiosa da
Bahia;de lá,partia a resistência.
Ainda
Castro Alves:”O mundo perguntava,erguendo um grito,qual dos gigantes
mortos,rolará?”
Vindos
do interior,pessoas simples,como os vaqueiros conhecidos como”Encourados de
Pedrão,”os sertanejos que formavam o batalhão do Príncipe ou Batalhão dos
Periquitos,por causa do verde amarelo das fardas,batalhão criado pelo avô do
poeta Castro Alves,José Antonio da Silva Castro, o Periquitão, que teve
um papel preponderante na nossa vitoria,lutavam com coragem.
Homens
como Pedro Labatut, o Almirante inglês Lord Cochrane, Barros Falcão
concretizaram nossa independência expulsando os lusos que eram cerca de 60000
homens contra 2500 homens nossos,mal armados e mal
alimentados,mas,cheios de um fogo que não se apagava,um amor pela pátria
nascente e o desejo de liberdade.
Desse
cadinho de raças surgiu a fantástica figura de Maria Quitéria de Jesus
Medeiros,mulher,analfabeta,filha de português,que alistou-se no exercito
vestida de homem e,com seu pequeno grupo aprisionou Trinta Diabos,um capitão de
Madeira,temido por todos pela violência e maldade,numa refrega na Ilha de
Itaparica.
Ao
levá-lo a Barros Falcão,este lhe disse,assustado:
-Mas,é o Trinta Diabos!?
Ela falou: -E eu sabia!?Prá mim era só um maroto inimigo.
Uma palavrinha sobre um quase garoto,magrinho e analfabeto,sem nenhuma experiência militar,que definiu a guerra: Luís Lopes. Era o corneteiro da tropa. Ao ver tantos portugueses reunidos na Colina de Pirajá, Barros Falcão, prudentemente ordenou o recuo.Mandou tocar:Cavalaria,recuar.
O Lopes,atrapalhado tocou:Cavalaria avançar.
-Mandei recuar,imbecil;disse Falcão.
O Lopes tocou: Cavalaria,degolar.
Madeira, assustado,pois sabia do abraço dos patriotas de Cochrane que abarcava a Pituba pelo lado esquerdo e Pirajá pelo direito,mandou tocar retirada completa e a tropa debandou,desesperada.Meu bisavô dizia que era como atirar em pombos;eles nem se defendiam mais. Volto com o poeta:
Lá no campo deserto da batalha
Uma voz
se elevou,clara e divina,
eras
tu,liberdade peregrina
Esposa
do porvir,noiva do sol.
Com a fuga de Madeira e seus asseclas para Lisboa,perseguidos por Labatut até a foz do Tejo,o Brasil estava finalmente independente.
“Tu que erguias subida na pirâmide
Formada
pelos mortos de Cabrito
Um
pedaço de gládio no infinito
Um
trapo de bandeira, na amplidão...
Só
recentemente,o Brasil começou a interessar-se e reconhecer a luta e os heróis
do 2 de julho.
Minha
homenagem aos heróis humildes da minha terra que defenderam o seu direito á
liberdade e acreditaram num Brasil recém nascido como país para todos os seus filhos!
*leiam
o poema completo na página 3.
Maria Felipa,Maria Quitéria,Sóror Joana Angélica e João
das Botas
Quem foi Maria Felipa?
Natural de Itaparica, Maria
Felipa foi uma mulher de muita coragem, de grande beleza, porte físico exuberante, habilidade de
capoeirista e trabalhadora marisqueira, muito querida da população da Ilha de
Itaparica, onde participou das lutas pela Independência na Bahia.
Maria Felipa comandou cerca de 40 mulheres num ato de ousadia e muito desembaraço, onde queimaram 42 barcos da esquadra, permitindo ao povo de Salvador a supremacia nos embates e a definição da situação, com a vitória sobre as tropas da dominação Portuguesa.
Em sua biografia destaca-se também a lendária história de quando Maria Felipa usou galhos de cansanção para dar uma surra nos vigias portugueses Araújo Mendes e Guimarães das Uvas.
"Maria Felipa foi uma guerreira negra que junto com cerca de 40 mulheres seduziram os portugueses e quando eles estavam completamente envolvidos, e sem roupa, deram-lhes uma surra de cansanção" - nos conta Hilda Virgens, da Casa de Maria Felipa.
Maria Felipa, ainda que pouco conhecida, é estudada hoje em Faculdades e Universidades. Esta mulher negra que lutou pela independência da Bahia ainda não foi devidamente reconhecida na história da Independência da Bahia.
Maria Felipa comandou cerca de 40 mulheres num ato de ousadia e muito desembaraço, onde queimaram 42 barcos da esquadra, permitindo ao povo de Salvador a supremacia nos embates e a definição da situação, com a vitória sobre as tropas da dominação Portuguesa.
Em sua biografia destaca-se também a lendária história de quando Maria Felipa usou galhos de cansanção para dar uma surra nos vigias portugueses Araújo Mendes e Guimarães das Uvas.
"Maria Felipa foi uma guerreira negra que junto com cerca de 40 mulheres seduziram os portugueses e quando eles estavam completamente envolvidos, e sem roupa, deram-lhes uma surra de cansanção" - nos conta Hilda Virgens, da Casa de Maria Felipa.
Maria Felipa, ainda que pouco conhecida, é estudada hoje em Faculdades e Universidades. Esta mulher negra que lutou pela independência da Bahia ainda não foi devidamente reconhecida na história da Independência da Bahia.
FONTE:Casa de Maria Felipa
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCara professora Miriam, agradeço a história aqui contada...sem querer sua biografia foi "encruzilhando-se" com a minha; também pedagoga, piagetiana e montessoriana,educadora infantil. que agora em uma segunda fase da vida se põe a estudar a história não inventada, e em processo de busca, se encontra. Obrigado.
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ResponderExcluirnão é 2 de julho de 1822, mas de 1823. o texto tá errado
ResponderExcluirBoa noite, professora. Antes de mais nada agradeço-lhe pelo blog e as informações nele contidas. Em segundo lugar, coloco uma questão à ser discutida (ou não...): quais motivos teriam levado vários historiadores a negarem as lutas pela independência e a insistirem que a mesma foi fruto de um mero acordo?
ResponderExcluirAbraços
José Luiz